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Crítica

Crítica: Flores Partidas

Flores partidas

24.11.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H19

Dois mestres do minimalismo, Jim Jarmusch (Ghost dog) e Bill Murray trabalharam juntos pela primeira vez em Sobre café e cigarros (Coffee and cigarettes, 2003), a divertida coleção de curtas do cineasta. Flores partidas é seu primeiro longa-metragem juntos... e que venham muitos mais.

Flores Partidas

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O drama cômico conta a história de Don Johnston (Murray), um solteirão mulherengo que acaba de ser deixado pela namorada. Você me trata como sua amante, mas nem sequer é casado, reclama a moça. Melancólico e solitário, ele recebe quase que simultaneamente uma carta anônima. Dentro do envelope cor-de-rosa, sem remetente, a informação bombástica de que ele tem um filho de 19 anos. Johnston não demonstra interessa na missiva, mas seu vizinho xereta, o etíope Winston (Jeffrey Wright, excelente!), apaixonado por romances policiais, o convence a investigar o assunto e encontrar a mulher que escreveu a carta. Assim, o hesitante Don embarca numa viagem através dos Estados Unidos em busca de cinco antigas namoradas que podem ter pistas de seu filho.

Murray está mais uma vez perfeito como o protagonista, homem de emoções represadas, mas indisposto a romper o dique para deixá-las sair. Sua interpretação segue a linha contida/pensativa de Encontros e desencontros e A vida marinha com Steve Zissou. Coincidência ou não, dois dos melhores filmes estadunidenses dos últimos anos. Com este Flores partidas são três.

Mas o ator está em excepcional companhia. Sharon Stone, Frances Conroy, Jessica Lange, Tilda Swinton, Julie Delpy e Chloe Sevigny. Cada uma delas fica não mais do que cinco minutos na tela, mas roubam as cenas. É palpável nos encontros de Johnston com as ex-namoradas a velocidade com que o passado vêm à tona. Aliás, esse é o grande trunfo do filme. Na maioria dos road movies, o protagonista sai em busca de experiências novas. Neste, parte para reencontrar o passado. Obviamente, em nenhum dos casos há como permanecer o mesmo.

Jarmusch é um mestre em sua arte. Deixa a câmera parada, sem excessos de estilo, com a iluminação e cores mais naturais possíveis. Conhece a força de seu roteiro e dá um passo atrás para deixar o filme nas mãos dos atores e seus personagens. O único recurso de que se vale é a música, companhia de Johnston na estrada. E a seleção é extremamente feliz. O cineasta nos apresenta Mulato Astatke, um jazzista etíope, e mistura a exótica sonoridade do músico com Marvin Gaye e uma pitada de rock alternativo.

Sabe aqueles filmes em que você pensa se terminasse agora seria perfeito? Flores partidas é exatamente assim. Concluiu num momento tão perfeito que a edição parece ter sido feita em nível subatômico. Nem um átomo antes, nem depois. Deixa o espectador com vontade de ver mais, de conhecer mais aqueles personagens, de descobrir o passado, de acompanhá-los no futuro. Mas, como os casos passageiros do protagonista, encerra a relação logo, partindo-a como as flores do título.

Nota do Crítico
Excelente!