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Crítica

Crítica: Almas à Venda

Brilho eterno de quero ser Paul Giamatti

26.10.2009, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H54

Pergunte a qualquer fã de Michel Gondry, Charlie Kaufman e Spike Jonze quais seus filmes favoritos e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança e Quero Ser John Malkovich devem estar entre eles. Pergunte a esses mesmos fãs quais seus atores norte-americanos preferidos e o nome de Paul Giamatti deve aparecer em posição privilegiada na lista. Pois Almas à Venda (Cold Souls, 2009), filme também conhecido como Tráfico de Almas, parece ter sido especialmente desenvolvido para esse público.

Eu Ela e Minha Alma

Cold Souls

Giamatti faz o papel de sujeito melancólico e emocionalmente instável de sempre, com a diferença que desta vez ele "interpreta" a si mesmo. A história começa com o ator vivendo outro difícil famoso: Tio Vanya, do clássico homônimo de Anton Tchecov (1860-1904). O fracassado ícone teatral potencializa em Giamatti seus piores sentimentos de inadequação e ele começa a se desesperar faltando poucas semanas para a estreia da montagem.

A solução não tarda... o agente do ator indica a ele um serviço de "remoção e armazenagem de almas". Na clínica do Dr. Flintstein (o sempre excelente David Strathairn) remove o peso do passado ao retirar 95% da alma do paciente. Ficam as memórias, mas vão embora todas as angústias. O problema é que sem angústias não existe Tio Vanya - e Giamatti, irreconhecível pela própria esposa (Emily Watson) depois da operação, decide retomar o espírito removido. Seria tudo muito simples, não fosse o fato da alma ter sido roubada por traficantes russos...

A estapafúrdia história se aproveita de inúmeros elementos dos filmes citados acima. A diretora e roteirista estreante Sophie Barthes simplesmente não esconde as inspirações. Mas ao emular os famosos cineastas independentes, cria suas próprias pérolas. Não há como não gargalhar do surtado Giamatti encarando tudo isso com grave seriedade e, com a mesma expressão do cara que tomou vinho cuspido em Sideways, perguntando: "O que diabos minha alma está fazendo na Rússia". E na viagem dele ao país, Barthes ainda encontra um espacinho para outro tipo de melancolia, a romântica de Sofia Coppola em Encontros e Desencontros.

Um destilado quintessencial indie, bem-humorado, muito bem filmado (a fotografia de Andrij Parkeh é excelente) e dramático na medida. Mais que isso, um dos melhores trabalhos de Giamatti, que "interpreta" sensacionais espectros de si mesmo. Só a cena em que Vanya é interpretado malandramente, sem o peso da alma, já valeria o ingresso. Se você se encaixa entre o grupo descrito lá no primeiro parágrafo, não perca.

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Nota do Crítico
Ótimo