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Crítica

Crítica: Entre Irmãos

Versão hollywoodiana de drama dinamarquês trata a guerra como uma culpa hereditária

04.03.2010, às 18H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H59

Quando viveu no Afeganistão um trauma de batalha, em Brothers (2004), o major Michael, do exército dinamarquês, integrante da coalização ocidental contra a Al-Qaeda, estava lutando uma guerra que não era sua. A cultura do confronto pesa mais nos EUA, então é natural que no remake hollywoodiano de Brothers, Entre Irmãos, ela se imponha mais como tema.

entre irmãos

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A trama, em si, difere pouco. Temos um oficial de carreira - no lugar do dinamarquês Michael entra o capitão Sam Cahill interpretado por Tobey Maguire - com esposa linda (Natalie Portman) e duas filhas. Quando Sam é capturado por afegãos, todos nos EUA acreditam que ele foi morto. Entra em cena o irmão problemático (Jake Gyllenhaal) do militar, que acaba de sair da cadeia e servirá de ombro amigo para a enviuvada esposa.

Ao contrário da pegada melodramática sem meios termos da diretora do original, Susanne Bier, o irlandês Jim Sheridan (Terra dos Sonhos), que assina a refilmagem, tenta impor um clima de luto, a princípio, sem movimentos bruscos. Quando chega a notícia do desaparecimento de Sam, por exemplo, o roteiro nos informa, logo a seguir, mais três mortes: durante o velório ficamos sabendo que os pais da esposa já faleceram e que a mãe dos irmãos protagonistas também se foi há algum tempo.

O roteiro nos passa essas informações assim, uma atrás da outra, talvez como uma forma de botar o luto em contexto - esses personagens já sabem o que é perder um familiar - e para não dramatizar demais a "morte" de Sam. É uma forma também de adiantar o conflito que agora a esposa enfrentará: órfã e mãe de duas meninas, ela não tem mais ninguém onde se escorar. A entrada no triângulo do cunhado marginalizado, então, fica mais palatável.

É um processo, enfim, de tentar evitar choques muito grandes com o público, esse que Sheridan e o roteirista David Benioff escolhem para o filme. Provavelmente porque o foco dos dois não é o enfrentamento de Maguire com Gyllenhaal (no original ficava muito clara a diferença de caráter dos irmãos no momento de pressão, e Susanne trabalhava em cima disso), mas mostrar como a guerra transforma todos em vítimas.

Temos aqui um personagem-chave: o pai dos irmãos, Hank, vivido por Sam Shepard. Hank passou no Vietnã por um trauma semelhante ao que Sam agora enfrenta no Afeganistão, o contato com a morte. O modo como as guerras sazonais dos EUA desumanizam seus soldados, geração após geração, é o elemento central de Entre Irmãos. Quem mais sofre são sempre os filhos. Entra aí o talento de Sheridan para dirigir os seus elencos mirins, aqui representados pelas meninas Bailee Madison e Taylor Geare.

Essa ideia de hereditariedade da culpa - ademais, um tema familiar a um diretor criado numa tradicional escola católica irlandesa como Sheridan - tira de Entre Irmãos parte do seu potencial dramático. Aqui, a redenção dos pecadores (quem roubou, quem matou) não depende só de um ato de arrependimento que possa redimi-los (crucial para o personagem de Gyllenhaal), mas também do perdão daqueles que os cercam (essencial para Maguire).

Perdão, na visão de Benioff e Sheridan, é tudo o que os Estados Unidos precisam. É curioso, então, que eles tenham passado boa parte do filme tentando evitar o melodrama. No fim, a necessidade do perdão, em termos de dramaturgia, é melodramática por excelência.

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Nota do Crítico
Regular