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Crítica

Crítica: Encontro Explosivo

Filme de ação feito para mulheres encara o gênero com viés satírico

15.07.2010, às 16H53.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H04

Em sua obsessão por buscar o público mais amplo possível, Hollywood comete anomalias como essa safra recente de filmes unissex de ação. Em comparação com o inédito Par Perfeito e com Caçador de Recompensa - essencialmente, comédias românticas planejadas para transformar donzelas em protagonistas da ação - Encontro Explosivo (Knight & Day) é quem se sai melhor, porque subverte de dentro para fora as regras do gênero.

tom cruise

cameron diaz

tom cruise

Quando começa a tocar Gotan Project você percebe que trata-se de um daqueles thrillers "calientes". June Havens (Cameron Diaz) e Roy Miller (Tom Cruise) se conhecem num aeroporto já na correria. Ele, agente da CIA, está sendo perseguido pela própria agência. Para embarcar num avião, usa June como isca. Ela, por sua vez, está a caminho do casamento da irmã caçula - é o momento da vida útil em que as solteiras estão mais vulneráveis, o casamento da irmã caçula.

Resulta que Roy e June sobem no mesmo voo. Como é evidente que ela vai se apaixonar pelo cara e se envolver, a contragosto, na intriga de espionagem, o roteiro do estreante Patrick O'Neill tenta agilizar a exposição. A cena dentro do avião usa um truque da velha Hollywood: arma uma situação de suspense (aprendemos que os outros passageiros são do mal e só aguardam uma chance de matar Roy) para tornar o diálogo expositivo (June e Roy trocando sinceridades sobre quem são e com o que sonham; se apaixonando enfim) menos trivial. Aguentamos a falação do casal porque fomos pegos, antes, pelo suspense da cena.

De modo geral, é assim que Encontro Explosivo se desenrola: a trama de espião só serve para nos prender enquanto assistimos ao date movie. A coisa começa a ficar mais interessante, como dito acima, quando o diretor James Mangold (Johnny & June, Os Indomáveis) começa a burlar as convenções do cinema de ação em função desse seu "plano". Porque é bom ter em mente: Encontro Explosivo é um filme de ação para mulheres, e a parte que elas normalmente menos gostam é justo a ação.

A cena emblemática: Roy está cercado de bandidos numa mansão, munido com duas submetralhadoras, atirando para todas as direções, quando June volta ao seu lado. Ela foi dopada e está mais sensível. Reclama que Roy não dá atenção para ela. Então Roy simplesmente para de atirar, se vira para June, caminha até ela no meio do fogo cruzado, e dá-lhe aquele beijo. Corta para o lado de fora da mansão, e vemos o casal fugindo numa moto. Não importa, para Mangold, mostrar como Roy saiu da encurralada - é o beijo que os salva.

Na teoria, essa supressão da catarse dos filmes de ação parece insuportável, mas entra aí a figura de Tom Cruise. Atuando num espectro de canastrice que vai do autoparódico (às vezes parece que Ben Stiller está ali imitando o astro) ao metalinguístico (Cruise emula Bond, Bourne, Indiana), ele garante presença de cena mesmo que Mangold abuse tanto das elipses. Isso fica claro no verdadeiro medley de clichês que forma o melhor trecho do filme: a cena em que Roy é preso, torturado e foge - em menos de 30 segundos.

É evidente que Mangold está tratando o gênero e o mito do herói de ação de forma satírica, mas a entrega de Cruise impede que Encontro Explosivo, nesses momentos, descambe para a comédia de vez.

E Cameron Diaz? Bem, fazer um longa de ação para mulheres tem seu revés. O filme se vende como uma defesa das heroínas, mas repete situações machistas de comédia romântica (a típica virada no terceiro ato, que coloca uma segunda mulher num mal-entendido, como se o amor da protagonista só se legitimasse com o ciúme) e no fundo as trata como espectadoras passivas. Cruise dopar Diaz para que ela não o atrapalhe nos tiroteios equivale ao que Mangold faz com o público feminino ao suprimir a ação, não?

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Nota do Crítico
Bom