Filmes

Crítica

Crítica: Em Teu Nome

Quando vão anistiar os filmes de ditadura?

27.05.2010, às 17H17.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H02

A Lei da Anistia, de 1979, permitiu que muitos exilados políticos voltassem ao Brasil, mas, para fins de revisão histórica, ajudou a colocar a ditadura num limbo do qual até hoje o cinema nacional se ressente. Em Teu Nome, de Paulo Nascimento (Diário de um Novo Mundo, Valsa para Bruno Stein), é mais um filme a tocar no assunto.

em teu nome

em teu nome

em teu nome

A questão da distopia, constante na produção brasileira pós-Retomada, no caso de Em Teu Nome vê seu fluxo se inverter, num processo de mensagem patriótica: saem os personagens em constante diáspora, marcados pela inadequação, e entram aqueles que, despertados pela "realidade", descobrem que não há lugar no mundo como a pátria-mãe, por mais desnaturada que ela seja.

O principal deles é Boni (Leonardo Machado), estudante de engenharia que vive da mesada dos pais e adere à luta armada com um grupo de tipos clássicos (o professor racional, a mulher de aparência durona, o sindicalista enraizado, o extremista verborrágico). Rodado em locações no sul do Brasil, no Chile, no Marrocos e na França, Em Teu Nome não demora a transformar a anistia no seu tema central.

Passagem in loco por cenários estrangeiros, personagens baseados em figuras reais (o guerrilheiro João Carlos Bona Garcia, no caso de Boni), relatos documentais no começo e no fim do filme... Tudo isso visa dar ao bem intencionado Em Teu Nome um lustro histórico e sentimental, mas enquanto cinema o filme não se sustenta. Discursos simplificadores e encenação precária prejudicam qualquer potencial que a trajetória desses personagens poderia ter.

Esse tipo de coisa fica evidente logo, na forma como diálogos e situações impõem à força o conflito entre militantes e alienados. No começo do filme, Boni pinta palavras de ordem num muro, e na cena seguinte, por coincidência, ao voltar para casa, encontra um sarau onde no violão se canta "como é bonito o meu rancho".

E não basta sublinhar a questão - é preciso escolher um personagem para martelá-la, para lembrar que "tem gente sendo presa enquanto você estuda para a prova". No caso, o esquerdoide Onório (Marcos Verza), o tipo mais insuportável do cinema nacional desde Caio Junqueira em Seja o que Deus Quiser. Chega a ser cômico como Onório atravessa cenas andando, apenas para lembrar que "tem gente sendo presa". É um coro grego inteiro numa pessoa só (com direito a focos de luz teatrais nas cenas noturnas).

Sutileza é mesmo coisa rara do cinema nacional, mas Nascimento não apenas sobrecarrega os diálogos como negligencia dramas que poderiam crescer. O diretor insere uma cena gratuita - dois coadjuvantes entram numa igreja, fugindo da polícia - para iniciar uma subtrama romântica. Mas quando os dois personagens se beijam (e existe ali certo potencial, pelo contexto, pelo local do beijo), mal sobe a música e já corta para a cena seguinte. Pior: essa subtrama só volta a ser mencionada muito depois. Não há tempo fraco para assimilar o momento, nem interesse em acompanhá-lo - enfim, não há dramaturgia.

A partir da metade de Em Teu Nome, quando qualquer potencial se diluiu no longo esvaziamento dramático que é a espera pela anistia, a discurseira começa a irritar. Que diabos importa o cobre nacionalizado de Allende?

Não dá pra fazer milagre em 30 dias de filmagem, mas se a produção passasse menos tempo dentro de aviões para dar uma panorâmica na complexa política latinoamericana dos anos 70, talvez conseguisse prestar um pouco mais de atenção em seus personagens.

Saiba onde o filme está passando

Nota do Crítico
Ruim