Mel Gibson já provou mais de uma vez que não é só mais uma carinha bonita para aparecer em blockbusters, como a milionária série Máquina Mortífera. Ok, é difícil que os trabalhos de Gibson não sejam arrasa quarteirões — exceção talvez feita somente a Hamlet, de Franco Zeffirelli — mas a versatilidade e a simpatia inerentes ao ator lhe renderam papéis interessantes e diferenciados em filmes nem sempre tão ortodoxos.

Do policial maníaco suicida de Máquina Mortífera ao príncipe atormentado de Hamlet passando pelo detetive Skinner, de O Hotel de Um Milhão de Dólares, o ponto em comum dos personagens de Gibson é a tênue linha que separa a loucura, a paixão e o senso do certo e errado. Junte-se a isso uma boa dose de humor e chegamos a Nick Marshall, o publicitário charmoso e chauvinista de Do que as Mulheres Gostam (What Women Want).

Nick é um executivo e mulherengo de sucesso que vê sua carreira entrar em cheque. Numa tentativa de se adaptar melhor aos novos tempos, a direção da agência em que trabalha contrata Darcy Maguire (Helen Hunt, Oscar de melhor atriz por Melhor é Impossível, em 1997) para o cargo de diretora de criação, deixando-o para trás. Sua primeira tarefa: criar uma campanha perfeita para a mulher moderna. Machista ao extremo e acostumado a criar anúncios para carros, cigarros e bebidas, Nick não suporta a idéia de ter uma mulher como chefe e decide dar o troco (sem trocadilhos com outro sucesso do galã :)) e mostrar ao presidente da empresa (na pele do excelente underplayer Alan Alda) com quantos layouts se faz uma boa campanha publicitária.

Até aí, o filme seria apenas mais uma comédia romântica óbvia, cujo final seria o previsível enlace entre Nick e Darcy após uma série de idas e vindas. Mas é nesse ponto que Do que as Mulheres Gostam mostra a que veio, detonando uma situação absurda. Para criar campanhas voltadas especificamente para mulheres, Nick decide testar nele mesmo uma série de produtos femininos. Durante o processo, um bizarro acidente acontece e Nick passa a ouvir, em sua mente, os pensamentos projetados por todas as mulheres à sua volta. E não importa se eles vêm da sua mãe, da ascensorista, da secretária... ou de sua chefe. Com essa desculpa perfeita, o filme alcança seus melhores momentos, com piadas rápidas e situações divertidas, em que a química cômica entre Gibson e Hunt está perfeita.

Dirigido pela quase estreante cineasta e roteirista Nancy Meyers (Do Que as Mulheres Gostam é sua segunda direção, a primeira foi Operação Cupido, 1998), o filme ganha muito em cima dos medos e inseguranças dos dois, que se vêem numa versão moderna da guerra dos sexos: o acirrado mercado de trabalho. Mas é claro que o mundo dos relacionamentos também é importante — afinal trata-se de uma comédia romântica. Uma das melhores sequências do filme é quando Nick seduz a balconista interpretada pela bela Marisa Tomei (Oscar de melhor atriz coadjuvante por Meu Primo Vinnie). Logo que partem para a segunda base, é mostrado um dos maiores terrores masculinos: o que elas pensam durante o sexo&qt& A cena é tão apavorante quanto engraçada (pelo menos para os homens:)).

Talvez por esse ser apenas seu segundo filme como diretora, Meyers escorrega na conclusão de seu trabalho e Do Que as Mulheres Gostam termina como se fosse uma comédia romântica comum. A necessidade exagerada de tentar explicar o acidente de Nick e resolver tramas paralelas diminuem o brilho do filme, que poderia ter sido finalizado com um pouco mais de criatividade. Mesmo assim, a diversão continua sendo garantida. E, se você for mulher, ainda vai sair ganhando: Mel Gibson, além de se virar bem como comediante, continua sendo um dos homens mais bonitos e atraentes de Hollywood.