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Crítica

Crítica: Distrito 9

Sci-fi politizada tem efeitos de profissional e narrativa de amador

28.09.2009, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H53

A moda de usar a linguagem dos documentários para expor com didatismo uma premissa ficcional impregna Distrito 9 (District 9) desde o começo. Especialistas em urbanismo, jornalistas investigativos e âncoras de jornal explicam picado e moído tudo o que está acontecendo em Joanesburgo - se é que tem alguém a essa altura que ainda não saiba.

distrito 9

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O caso é que alienígenas que parecem uma versão crustácea do Dr. Zoidberg de Futurama caíram na Terra. Caíram, não, porque a nave-mãe plana sobre a África do Sul - mas aprendemos logo que o OVNI está estacionado ali e em 20 anos jamais saiu. Os ETs com o tempo foram sendo instalados num distrito da cidade, que logo virou favela. A eles foi dado o apelido pejorativo de prawns, camarões.

Em duas décadas a situação ficou incontrolável, e cabe à versão fictícia da ONU, a MNU, desalojar os camarões e transferí-los para um campo de concentração para conter a raiva e o medo dos sul-africanos humanos. O problema se agrava quando o encarregado da missão, Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley), que tentava entregar a ordem de despejo a um dos alienígenas, entra em contato com um estranho líquido viscoso... E aí já viu.

Seria sacanagem detalhar mais o desenrolar da história - mesmo porque já bastam as explicações e os comentários constantes que o roteiro de Terri Tatchell (coescrito pelo diretor Neill Blomkamp) nos impõe. Se a nave se move, logo aparece uma repórter dizendo: "A nave se moveu!". Se o herói está em fuga e não tem para onde ir, o áudio do comentarista entra para repetir: "Ele não tinha para onde ir!".

Juro que não é implicância; beiram o insuportável esses textos em off reiterando o que a imagem já diz. Isso se agrava porque há dois tempos e dois níveis de comentários, simultâneos: o factual (a transferência dos camarões é acompanhada pela cobertura jornalística) e o documental (os especialistas relembrando, do futuro, todo o caso de Wikus). É didatismo demais, não dá.

E é um didatismo desnecessário, porque o filme está longe de ser críptico ou de precisar de manual. Pelo contrário, ele opta por uma estrutura de rumos e viradas consagrada: temos um herói que despreza seu inimigo e de repente se vê forçado a se colocar no lugar desse inimigo. Seus aliados não eram quem ele pensava, veja só. É a metáfora política-humanista para iniciantes: nada como fazer as pessoas provarem do próprio preconceito para que elas percebam como antes eram preconceituosas.

Claro, além de saber que Distrito 9 lida com metáforas politizadas (o longa não foi rodado numa reprodução do Soweto por acaso), você já deve saber que os efeitos são o grande destaque. Isso não é preciso repetir. A casa de pós-produção de Peter Jackson faz milagre com alegados 30 milhões de dólares de orçamento, só para provar que seu protegido, o estreante Blomkamp, tinha talento para dirigir o filme de Halo que não aconteceu.

A questão é: de que adianta dispender criatividade e dinheiro pensando no design das criaturas, dos robôs, das naves e das armas se os personagens e os seus arcos são sempre os mesmos? Sogro militar malvado, soldado brutamontes que é guardado para ser o chefão de fase, mártir que dá meia-volta para salvar o amigo... Tudo isso você está cansado de ver, não importa a embalagem (embora os olhos da mutação sejam bem legais...).

Fãs de boa ficção científica, e fãs de Halo, merecem mais do que essa demonstração juvenil (com trilha de comentário) de um Resident Evil 5 de baixo orçamento.

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Nota do Crítico
Regular