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Crítica

Crítica: Corpo Fechado

Corpo Fechado

11.01.2001, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H11

Se, por acaso, você sair chorando após assistir a Corpo Fechado (Unbreakable, 2000) e for chamado de idiota por causa disso, não dê a mínima. É batata que isso vai acontecer. Até porque existe muita gente mal-amada neste mundo. Mas liga não. O importante é ter a consciência de que se trata de um dos melhores filmes feitos em Hollywood nos últimos (muitos) anos.

O que o diretor M. Night Shyamalan consegue na película não é pouca coisa. Ele até mesmo supera seu sucesso anterior, O Sexto Sentido - que foi um dos melhores da década de 90. Os méritos estão em toda parte; na direção fotográfica cuidadosa, que opera bem com tons escuro e faz balé com o foco da câmera; no roteiro com uma surpresa de gelar a alma no fim; e a poderosa atuação de Bruce Willis.

Duro de matar como sempre, Willis tem um dos momentos mais inspirados de sua carreira. Vivendo um desacreditado segurança de um estádio - lugar onde colheu glórias no passado como jogador de futebol -, o ator confere credibilidade à trama ao se descobrir o único sobrevivente de um acidente de trem que matou 131 pessoas. Ao escapar ileso, ele se dá conta de que nunca teve sequer uma gripezinha. Então, se, em O sexto sentido, o lance eram os defuntos melancólicos, aqui impera a paranormalidade.

Com um quezinho de X-Men na ingenuidade e Arquivo X no ceticismo, Shyamalan mete na trama uma personagem descolada e esquisitona, interpretada pelo sempre "irado" Samuel L. Jackson. É ele que joga a pulga atrás da orelha de Willis. Dono de uma gibiteria e fanático por HQs, o cara defende a teoria de que o segurança seria na verdade um super-herói. Por isso, não sofreu nada no acidente e nunca teve que encarar uma fila do INPS. A idéia, a princípio absurda, é explorada durante os 106 minutos do fita, desta vez, fazendo o espectador duvidar do impossível. Será que alguém pode ter nascido com a benção de ser indestrutível?

Cozida em muito suspense e boas interpretações, essa pergunta converge para o lirismo em dois momentos: quando se aproxima o sonho de todo fã de quadrinhos, ou seja, a chance de um homem comum tornar-se herói; e na crença no amor, mostrada na reconciliação de Willis com sua esposa, vivida pela competente Robin Wright Penn, de Forrest Gump. São duas seqüências em que fica difícil conter a emoção. Tudo bem se você verter uma lágrima ou outra. É perfeitamente compreensível. Pode ser até que tudo termine em berreiro. Aí é que algum retardado pode implicar. Mas tudo bem, porque, na sua origem, a palavra idiota quer dizer puro. E isso não é para qualquer um. Nem ser herói...

Nota do Crítico
Excelente!