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Crítica

Crítica: Coincidências do Amor

Drama travestido de comédia romântica divide conosco lamúrias da modernidade

16.09.2010, às 19H08.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H08

O currículo dos diretores Will Speck e Josh Gordon, de Escorregando para a Glória, e a premissa chanchadesca de Coincidências do Amor (The Switch) dão a entender que a comédia romântica pesa para o lado cômico, mas é daqueles filmes melancólicos que, enquanto consertam a vida amorosa dos personagens, tentam aliviar também as lamúrias da modernidade.

coincidencias do amor

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A escalação de Jason Bateman já deixa isso saliente. Bateman, "menino-homem", como diz um mendigo no começo do filme, é o ator-de-tipos que Hollywood procura quando quer um protagonista em amadurecimento tardio: está em plena meia idade, mas parece que não passou pela obrigatória história de formação juvenil. É, ademais, um ator com cara de gente comum, ideal para aquelas cenas em câmera lenta do "rosto na multidão" de Nova York. O personagem, aliás, se chama Wally (só faltou ser Waldo).

Speck e Gordon tentam falar a nossa língua e ao nosso coração, por isso a escolha por Bateman e pela narração em off pausada, como naqueles power points motivacionais. O texto diz, resumindo, que é muito difícil encontrar uma alma gêmea, saber identificá-la etc., e está claro que a outra metade da maçã de Wally em toda a Big Apple é Kassie (Jennifer Aniston). Justo Jennifer Aniston, a quem a imagem de solteira em crise cola publicamente sem esforço.

São então dois desengonçados sociais, para usar um termo gentil, e Kassie percebe primeiro que o tempo está acabando. Diz ao seu melhor amigo Wally que vai engravidar por inseminação artificial. Wally não aceita bem - já desperdiçou antes a chance de conquistá-la e agora terá que aceitar a semente intrometida de outro homem. A tal reviravolta chanchadesca: numa bebedeira, Wally troca o potinho de sêmen do cara pelo seu.

O roteirista Allan Loeb, de Coisas que Perdemos pelo Caminho e do segundo Wall Street, não é bobo. Parte de uma trama de desencontros, subgênero propício para o humor, para atochar dilemas metropolitanos em seus personagens. A insensibilidade do mercado financeiro e a obsessão pelo exercício físico, por exemplo, se somam ao drama-base da hoje disfuncional tradição famíliar: o pai que no fundo deseja ser criança para corrigir seu passado e a mãe cuja urgência é definir seu futuro.

No mais, Coincidências do Amor só não é uma daquelas comédias dramáticas depressivas de Sundance porque não tem vergonha de recorrer - ao contrário da maioria dos indies - à válvula de escape dos coadjuvantes histéricos (aqui, Juliette Lewis e Jeff Goldblum), criados para que a gente respire um pouco e para que os protagonistas sofram sem desatenção.

Artimanhas dramáticas expostas - sempre bom explicar ao espectador exatamente o que ele vai encontrar -, vale dizer que Loeb e os diretores cumprem direitinho a cartilha do sentimentalismo. A cena em que Wally apaga a luz do quarto do menino é chave: fica escuro e a cena corta justo no momento em que os olhos do pai começam a marejar, e ficamos assim num suspense, intimados a seguir, aqui do lado de fora, com esse choro interrompído.

Saiba onde Coincidências do Amor está passando

Nota do Crítico
Bom