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Crítica

Crítica: Carros

Carros

29.06.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H20

Ok, trabalhar aqui na Cozinha é legal pra caramba! A gente se diverte, vai ver filmes antes de todo mundo, de vez em quando viaja, conversa com as celebridades, recebe gibis e CDs, mas não é tão bom quanto, digamos, trabalhar na Pixar. Pelo que se vê nos vídeos que mostram os bastidores das animações, o lugar deve ser o mais próximo possível da definição de "Paraíso na Terra". Todo mundo parece estar sempre se divertindo, os locais de trabalho são soterrados por brinquedos e brincadeiras e eles ainda ganham em dólar. ;-)

Carros

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O reflexo de um ambiente descontraído como este se vê nas telas. Por mais que exista um ou outro trabalho da parceria Pixar/Disney que tenha se saído melhor ou ligeiramente pior com os críticos ou público, a qualidade final é sempre irretocável. É assim desde Toy Story (1995). Ninguém imaginou que fosse diferente com Carros (Cars, 2006).

Um dos grandes desafios deste novo projeto era dar vida aos automóveis, já que todo o universo da história é populado apenas por eles, sem a intervenção de seres humanos. E não é exagero dizer que depois de um tempo você vai esquecer que eles são carros. A grande sacada foi esquecer a tradicional idéia de usar os faróis como olhos, colocando a visão no pára-brisa. Isso ajudou os técnicos a darem feições e sentimentos mais humanizados a personagens que inicialmente eram de ferro, borracha e vidro.

O "pai" do projeto é John Lasseter, que não comandava uma animação desde Toy Story 2 (1999). Durante este tempo, porém, ele ajudou a produzir alguns projetos da casa (Monstros S.A., Procurando Nemo e Os incríveis), mas antes disso saiu de férias com a sua família e rodou a famosa Rota 66, que corta os Estados Unidos de Los Angeles a Chicago. Foi com o pé na estrada que ele achou a motivação para Carros. "Eu descobri que a maior recompensa da vida é a própria jornada. É ótimo realizar coisas importantes, mas você vai querer ter a família e os amigos por perto na hora de comemorar", conta.

Assim surgiu a história de Relâmpago McQueen (vozes de Owen Wilson no original e Marcelo Garcia na versão brasileira), um promissor estreante no mundo do automobilismo. Depois de terminarem o campeonato empatados, McQueen, o veterano recordista de títulos conhecido como O Rei (Richard Petty/Márcio Simões), e o eterno vice-campeão Chick Hicks (Michael Keaton/Renato Rosenberg) partem para um tira-teima na Califórnia.

E é na sua viagem para a ensolarada Costa Oeste dos Estados Unidos que McQueen acaba preso em Radiator Springs, uma pequena cidade que já viveu dias de glória no passado, quando a Rota 66 era o caminho para quem cruzava o país. Porém, com a criação de uma nova estrada, hoje só passam por lá aqueles carros-macho que "sabem" para onde estão indo e não precisam parar para perguntar. Depois de causar alvoroço no vilarejo, McQueen é condenado a cumprir serviços por lá, mas sua pena acaba se tornando uma grande lição de vida.

Quem ajuda nesta jornada são a curvilínea Porsche Sally Carrera (Bonnie Hunt/Priscila Fantin), o velho Doc Hudson (Paul Newman/Daniel Filho) e o guincho de bom coração Mate (Larry The Cable Guy/Mario Jorge). Sempre com o pé atrás quando são escolhidos atores globais para emprestar suas vozes a animações, desta vez preciso dar o braço a torcer. Priscila Fantin, com o perdão dos trocadilhos, não derrapa e Daniel Filho acelera bonito. Para este trabalho, Daniel não se limitou a colocar a sua própria voz. Ele assistiu a filmes antigos de Paul Newman e usou uma entonação bastante parecida com a do astro hollywoodiano.

No melhor estilo Walt Disney de contar histórias, Carros tem um enredo edificante e de superações. Mas a forma como tudo isso é feito é mais uma vez muito bem costurada e empolgante a ponto de fazer você torcer até a bandeirada final. É também um filme que retrata a sociedade norte-americana, criticando o progresso a qualquer preço, em depreciação às belezas da vida cotidiana, mas reflete também no resto do mundo, com uma história de amizade que é universal. Algo do tipo: é legal ter um iPod, mas colocar a agulha no vinil e botar o som pra galera é ainda melhor!

P.S. Chegue na hora, para não correr o risco de perder o curta-metragem Banda de uma pessoa só e nem pense em sair do cinema antes do último fotograma.

Nota do Crítico
Ótimo