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Crítica: Atraídos pelo Crime

Diretor de Dia de Treinamento volta ao gênero policial e multiplica as decisões morais por três

01.04.2010, às 17H01.

Em Atraídos pelo Crime (Brooklyn's Finest), o diretor Antoine Fuqua (Rei Arthur, Lágrimas do Sol, Atirador) volta ao gênero do filme que o tornou conhecido, Dia de Treinamento. Como todo policial, envolve decisões morais em um ambiente corrompido. No caso, três decisões.

atraídos pelo crime

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Richard Gere, Ethan Hawke e Don Cheadle interpretam três policiais do Brooklyn, Nova York, cada um protagonista de sua subtrama. Gere vive o veterano que está a uma semana de se aposentar, descrente do ofício mas instigado pela sede de ação dos novatos. Hawke é o policial católico com esposa doente que se vê tentado a tomar para si o dinheiro de batidas contra o tráfico. E Cheadle é o detetive infiltrado numa gangue que, depois de anos, já não consegue separar suas duas personas.

O fato de serem três arquétipos um tanto batidos - o personagem de Hawke é praticamente uma versão derrotada de seu policial em Dia de Treinamento - já coloca Atraídos pelo Crime em desvantagem, e o overacting do trio desde o começo do filme também não ajuda. Falta um Denzel Washington para assumir a responsabilidade e servir de motor? Falta, mas se Fuqua optou pelo filme-mosaico um ator forte só desestabilizaria as duas outras subtramas.

Vamos com o que temos, portanto.

É louvável o esforço do diretor em pensar em uma mise-en-scéne mais sofisticada. Nas cenas de diálogos entre duas pessoas, ele usa truques para economizar um contraplano. Ao colocar o reflexo de Gere no espelho do quarto da prostituta, por exemplo, ambos ficam em enquadramento e Fuqua não precisa ficar cortando do rosto de Gere para a mulher o tempo todo. O problema é que o estoque de ferramentas do diretor é limitada; o lance do espelho ele já havia usado para mostrar a tatuagem de Hawke. O mesmo vale para a iluminação de cena; uma sacada com a fonte de luz na última cena de Hawke se repete na última cena de Cheadle.

Fuqua não é um grande encenador ou diretor de atores (conte quantas vezes os personagens atormentados ficam de costas para a câmera e esmurram a parede ou a mesa), mas o principal problema de Atraídos pelo Crime é mesmo o roteiro do iniciante Michael C. Martin. Desde a primeira fala - nos filmes policiais em geral e no Brooklyn em particular tudo se relativiza, não há o "certo" ou o "errado", e sim o "righter or wronger" - o texto de Martin martela temas de maneira pouco sutil.

Você já está cansado de saber do dilema moral do personagem de Ethan Hawke, por exemplo, e ainda assim todas as cenas são montadas de modo funcional para reiterá-lo: no jogo de pôquer, no dinheiro sujo de sangue, no trem que passa atrás da casa, na cena do hospital calculada para intensificar o dilema. Que função tem a atriz Ellen Barkin (na subtrama de Cheadle) além de reforçar uma situação que já estava bem exposta?

Quando um roteirista se prende a um discurso antes de pensar nas situações, o texto se enfraquece. No fim, Atraídos pelo Crime não tem vigor para fazer filme-mosaico com o mesmo descaramento do chantagista Crash - No Limite, nem alcança o pluralismo de um The Wire (e olha que eles até colocam Isiah Whitlock em cena para emular a série da HBO). Ficar no meio termo é sempre a pior opção.

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Nota do Crítico
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