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Crítica

Crítica: Arranca-me a Vida

Drama mexicano mostra o país nas décadas de 30 e 40 do ponto de vista da esposa de um general

15.10.2009, às 17H00.
Atualizada em 13.11.2016, ÀS 02H03

Filme mais caro da história do cinema mexicano, Arranca-me a Vida (Arráncame la Vida, 2008) conseguiu nas bilheterias do seu país recorde de público no seu fim de semana de estreia e prêmios que lhe valeram a indicação para tentar a vaga no Oscar deste ano para a categoria de Filme Estrangeiro. Adaptação do livro homônimo escrito por Ángeles Mastretta, o filme se ambienta nos anos de 1930 e 1940, quando o país passava por importantes mudanças políticas ainda à sombra da Revolução Mexicana.

Arranca-me a Vida

Arranca-me a Vida

Arranca-me a Vida

Um dos personagens principais é o general Andrés Ascencio (Daniel Giménez Cacho), que conquista com promessas materiais o coração da jovem Catalina (Ana Claudia Talancón). Ainda menina, ela cede à tentação, aceita se casar com o general e parte para uma vida longe da pobreza, mesmo já imaginando um futuro com menos liberdade do que tinha na casa, principalmente ao lado do pai mais carinhoso do mundo.

Com grandes aspirações, Andrés vai galgando os degraus da política com a mesma velocidade que filhos (legítimos ou não) vão aparecendo em sua casa. Depois de eleito governador do seu estado, ele passa a almejar a presidência da república. E Catalina, já infeliz com o seu papel de esposa e mãe em uma sociedada chauvinista, começa a procurar formas de satisfazer suas frustrações. É neste momento, já morando na cidade do México, que ela conhece o diretor da orquestra, Carlos Vives (José María de Tavira). Intelectual, cheio de ideais, libertário, amigo das sindicâncias e dos trabalhadores, Vives representa a completa antítese do atual marido de Catalina.

As quase duas décadas que acompanhamos a vida de Catalina mostram o desenvolvimento da mulher. Ela passa de menina virgem a amante, de esposa servil a contestadora. Porém, ela jamais questiona o marido a ponto de colocar em risco o conforto em que vivem ela e seus filhos. Seria, então, essa contestação válida? Este é o questionamento de Catalina na parte final do filme. Sabendo de todas as atrocidades que um general é capaz de fazer, não deveria ela tomar alguma atitude?

O drama pessoal de Catalina é sempre apresentado tendo o contexto histórico como pano de fundo. A transição que começou na revolução de 1910, e tirou do poder o ditador Porfírio Diaz, tenta dar mais poder aos trabalhadores. Contra eles estão os interesses políticos e econômicos dos governantes e de países como os Estados Unidos, sempre de olho na oportunidade de lucrar com os vizinhos do sul.

Arranca-me a Vida não é uma aula de história, nem uma aula de dramaturgia, mas com seu jeito novelesco tem elementos suficientes para entreter o público durante as suas quase duas horas de duração. Poderia ser um filme menos caro, mas parte da sua graça está justamente no tratamento dispensado ao figurino e as cenários, todos impecáveis na hora de mostrar o México dos anos 30/40.

Nota do Crítico
Bom