O que o documentário American Swing tem de mais curioso não está nos depoimentos ou nas imagens de arquivo, mas nos cenários. Para refazer a história da casa de swing mais famosa e infame de Nova York, os diretores Jon Hart e Matthew Kaufman foram atrás das pessoas que frequentavam a Plato's Retreat nos anos 70 - e a variedade das salas de estar dos entrevistados é tremenda.
american swing
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Há o casal que trabalhava na contabilidade da boate, hoje sentados em um sofá diante de uma natureza morta qualquer e de vasos com flores. Tem também o senhor de jeito afetado com bichos empalhados na parede. A madame siliconada com cristais num aparador. Outro senhor, mais austero, diante de uma parede branca. O tipo que quer parecer jovem, sentado numa poltrona de pele de onça. A gorda típica dos EUA, com cabelo curto oxigenado, ao lado de uma estante de livros. A ex-hippie com objetos de madeira e artesanatos ao fundo. Outro senhor, com um livro de Direito sobre a mesa. Outra mulher, mais esotérica, talvez, cercada de cortinas pesadas vermelhas.
A simples união de perfis tão díspares, gente que não se imaginaria junta nem num supermercado, é a prova mais contundente - e resistente ao tempo - de que há poucas sociedades no mundo tão democráticas quanto a das casas de troca-troca de casais.
Pelo menos assim era na Plato's, diz uma das entrevistadas, que nunca mais sentiu vergonha de si mesma depois que entrou pela primeira vez no porão do edifício Ansonia, onde ficava a boate de propriedade de Larry Levenson. O filme conta a ascensão e a queda da Plato's Retreat por meio de Levenson, de dono de frigoríficos a personalidade de rede nacional. Ex-mulher e filhos do empresário lembram hoje como foi viver numa época em que sexo era uma manifestação política - e como a obra de Levenson foi levada pelo fim das ideologias, pela sonegação de impostos, pelos anos 80, pela epidemia de AIDS.
Se o esforço de Hart e Kaufman para associar a imagem de Levenson à da boate leva a simplificações (como dizer que a degradação da Plato's só começou quando o seu dono foi preso) e a mitificações (repare como o ator pornô Ron Jeremy, símbolo do sexo como negócio, só aparece nas entrevistas quando a fase áurea da boate já se foi), a sinceridade dos entrevistados compensa a narrativa quadrada e reducionista. Como quando uma frequentadora diz que a Plato's era a "Mansão Palyboy dos pobres" ou quando a pintora relembra o dia em que conheceu a pasoliniana sala dos colchões e isso matou a noção que ela tinha de romance.
No fim das contas, quem faz o sucesso de uma casa de swing são os seus frequentadores, e falando à câmera fica a certeza de que os entrevistados não só guardam boas lembranças do passado, como também se orgulham de relembrá-lo.