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Crítica

Crítica: A Órfã

Espanhóis dominam o suspense hollywoodiano, mas o material nem sempre rende

03.09.2009, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H52

O diretor catalão Jaume Collet-Serra é um dos nomes da Espanha que cada vez mais emigram para fazer suspense e terror em Hollywood, ao lado de Jaume Balagueró (A Sétima Vítima), Juan Antonio Bayona (O Orfanato) e Juan Carlos Fresnadillo (Extermínio 2), entre outros. Depois de estrear com A Casa de Cera, agora Collet-Serra dirige A Órfã (Orphan, 2009).

a órfã

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Na trama, um casal, interpretado por Vera Farmiga e Peter Sarsgaard, não consegue superar o luto pela morte de seu terceiro rebento, que morreu ainda na barriga da mãe. Assim, eles decidem adotar uma filha em um orfanato para meninas já na pré-adolescência. Lá encontram a pequena russa Esther (Isabelle Fuhrman). Ou talvez Esther é quem os tenha escolhido.

Em seu primeiro trabalho hollywoodiano, Collet-Serra já mostrara ser bom de climas, e aqui ele joga com uma ambientação clássica do gênero - a floresta de inverno, de árvores secas e muita neve - aliada a premissas interessantes (a menina surda, por exemplo). Infelizmente, tanto para Collet-Serra quanto para seus pares hispânicos, há sempre uma fórmula a seguir em Hollywood, e o roteiro de David Johnson e Alex Mace não consegue se desprender dela.

A fórmula, neste caso, é a do núcleo familiar dividido por um mal puro: esse mal se funde à rotina da família, faz despertar crises íntimas que estavam no passado e, por fim, termina dividindo a família (ou pelo menos aquelas que não têm forças para se reunir e vencer o mal no fim). O problema de A Órfã é que, antes de descambar para o maniqueísmo, Esther tinha potencial para ser algo mais complexo do que esse mal puro.

Fala-se, afinal, de como o drama da adoção modifica a vida tanto dos pais e dos filhos que já estavam lá quando da criança que está chegando agora. Até certo ponto no filme, as manifestações de maldade de Esther são, olhando de perto, apenas insegurança de quem está tentando se adequar ao novo ambiente. Por extensão, o fato dela ser maltratada pelas outras crianças pode ser visto como instinto de preservação dos filhos diante da nova irmã.

É um material promissor que, ao mesmo tempo que discute a responsabilidade de criar uma família não tradicional, permitiria os sustos e as atmosferas típicas do gênero sem caracterizar um maniqueísmo. Em outras palavras, daria para criar uma personagem amedrontadora com base em simples psicologia infantil, sem a necessidade da backstory medonha que o roteiro de A Órfã a certa altura joga no colo do espectador. Do jeito que resultou, A Órfã não só presta um desserviço ao difícil ofício de quem trabalha com adoção (e com psiquiatria), como desperdiça o talento de Collet-Serra, Sarsgaard e Farmiga.

No fim, a competência do espanhol se limita a evitar o completo ocaso daquilo que poderia ter sido um filme menos trivial.

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Nota do Crítico
Bom