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Crítica

Crítica: 2012

Pacote com a catarse do caos traz de brinde culpa e tristeza

12.11.2009, às 15H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H55

A alta cúpula já estava preparada para o fim do mundo. Mas o geólogo chega para o presidente dos Estados Unidos e diz que suas contas estavam equivocadas - o cataclisma acontecerá meses antes do que ele previa. O presidente questiona: como assim contas equivocadas? O geólogo não tem o que dizer: "Simplesmente errei".

2012

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Então o presidente negro dos EUA, vivido por Danny Glover, se resigna: "Sabe quantas vezes se ouviu aqui na Casa Branca uma pessoa reconhecer que estava errada? Zero". É uma confissão de prepotência que, dada a opção de associar visualmente o presidente fictício com Barack Obama, passa a ecoar questões da Era Bush. O diretor Roland Emmerich destrói o planeta em 2012 para que todos nós perdoemos os EUA, basicamente.

O filme-catástrofe é um subgênero fetichista por excelência, em que a catarse do caos aliena nossos problemas de fato - ao ver o lagarto gigante de Godzilla destruindo Manhattan, por exemplo, os medos da vida real soam prosaicos. O que Emmerich faz em 2012 é combater o componente alienante. É o seu filme mais panfletário e também o que martela mais forte uma mensagem. Para quem já dirigiu patacoadas americanófilas como Soldado Universal, Independence Day e O Patriota, não é pouca coisa.

A trama se faz de premissas consagradas. Acompanhamos o clássico pai divorciado que está tentando reconquistar o afeto dos filhos, interpretado por John Cusack, a metonímia que individualiza para o espectador um drama tão continental que, visto só de cima, perderia um pouco a humanidade. Para que o espectador possa se identificar com cada um dos desastres (vulcões, fissuras tectônicas, maremotos), o pobre John Cusack será forçado a estar presente em cada um deles.

Não é difícil imaginar o final de uma história dessas. O que muda, na forma como Emmerich tonaliza 2012, é o peso. O processo de desalienação do filme-catástrofe leva a um sentimento de culpa generalizado. O presidente se sente culpado por não ter avisado a população do fim. O geólogo se sente culpado porque não vai salvar quem gostaria. O pai do geólogo, que descobrimos ter um histórico de alcoolismo, indica se sentir culpado pela relação que manteve com o filho.

Repare que o personagem de Cusack, um escritor, fala em seu livro sobre abnegação, sobre o dom de entregar a vida pelo próximo, mas seu momento de heroísmo no filme vem atrelado a um sentimento de culpa: "Nós causamos isso".

Todo mundo carrega um remorso, enfim, e o tempo para repará-lo está encurtando. Como 2012 se constitui de um mosaico de vidas efêmeras - antes de se apegar às pessoas Emmerich está mais interessado em tornar plausível o colapso do planeta, vide a animação infantil criada pelo personagem de Woody Harrelson - o jeito é recorrer à redenção express. O tempo de tela de cada personagem é mínimo, então trate de aproveitar para pedir suas desculpas e, se for o caso, fazer suas preces.

Não achei que fosse usar esse adjetivo aqui, mas 2012 é um filme... triste. E diante de toda esse pesar surge como um alívio a cena em que a bibelô russa tenta salvar a vida de seu pequinês. O maior maremoto de todos os tempos vai cobrir o diabo do Himalaia e somos obrigados a torcer por um cachorro... Essa cena é o que nos traz de volta o senso de absurdo de 2012, e naquele respiro Emmerich parece entender, nem que seja por um minuto, que o gênero no qual ele se especializou às vezes se leva a sério demais.

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Nota do Crítico
Regular