Filmes

Crítica

Cargo

Filme da Netflix fala sobre humanidade e sobrevivência, mas não decide qual história quer contar

25.07.2018, às 15H54.
Atualizada em 25.07.2018, ÀS 16H24

Uma das coisas mais importantes sobre um filme é que ele precisa saber qual história quer contar e qual mensagem quer passar para o público. Quando esse conceito não é estabelecido, o resultado é um filme como Cargo, produção da Netflix que tem boas intenções, um grande elenco, mas conduz sua história de forma muito confusa.

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Na trama, Andy (Martin Freeman) está numa Austrália tomada pelo apocalipse zumbi. Depois de ser mordido, ele tem 48 horas para encontrar alguém para cuidar de sua filha pequena. Essa sinopse apresenta um conceito interessante, principalmente pela figura complicadora que a criança representa: frágil e impossível de se defender sozinha, ela é uma "carga" para o protagonista, ao mesmo tempo em que é sua grande motivação para continuar.

Mas Cargo se perde realmente quando tenta colocar tramas paralelas que fazem pouco sentido com a história, e não são bem desenvolvidas. Um exemplo disso é o vilão interpretado por Anthony Hayes. Vic é um homem que se aproveita do apocalipse zumbi em benefício próprio. Ele é ganancioso e está se preparando para ganhar dinheiro quando o mundo voltar ao normal. Com esse personagem, a roteirista Yolanda Ramke parece querer mostrar que os seres humanos são as criaturas mais perigosas do mundo, mesmo diante de uma invasão zumbi. Nós somos os vilões da nossa própria história.

Porém, esse conceito falha quando Vic é representado de uma forma extremamente caricata: sempre com uma espingarda na mão e com olhar malandro, o personagem parece ter saído de um desenho animado. Sem camadas ou profundidade, ele é uma ameaça rasa, que move a história, mas não acrescenta nada.

Isso é ainda pior quando uma dessas tramas, nesse caso sobre as tribos indígenas da Austrália, tem ligação direta com o final do filme. Desviando totalmente de seu caminho original, o longa parte para uma ideia de retorno da humanidade às suas origens, mostrando que esses personagens possuem uma sabedoria superior e desconhecida pelo homem moderno. Se bem feito, isso poderia se tornar uma homenagem bonita para as origens do país, mas não há desenvolvimento, pouco é explicado e o filme termina sem definir seu objetivo ao abordar esse tema.

Cargo tem momentos positivos na atuação de Martin Freeman, que é exagerada em alguns momentos, mas transmite de forma precisa o peso da situação em que o personagem está. É através de Andy que o longa fala sobre a aceitação da morte e o que torna as pessoas realmente humanas: será a consciência? Ou o amor? São assuntos que continuam na mente do público depois que o filme termina, mas é uma pena que eles foram apresentados de forma tão rasa e confusa.

Nota do Crítico
Regular