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Crítica

Crítica: Belle Toujours

Manoel de Oliveira e a continuação de A Bela da Tarde

26.10.2006, às 00H00.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 03H10

Manoel de Oliveira é, sem a menor dúvida, um dos mais importantes cineastas vivos e da sua extensa filmografia, cinco ou seis filmes são obrigatórios. Não colocaria Belle Toujours - Sempre Bela nessa lista, apesar de adorar o filme, sua proposta e de saborear a elegância e classe com que Oliveira filma. E não o colocaria porque a marca deste filme é o respeito ao dialogar com uma das maiores obras do cinema mundial.

Belle Toujors

Belle Toujors

No filme, que foi ovacionado no Festival de Veneza, Manoel Oliveira presta uma homenagem a Luís Buñuel e a Jean-Claude Carrière, diretor e roteirista de A Bela da Tarde, propondo uma continuação do filme de 1967. Nesta homenagem, ressuscita dois dos personagens do filme: Severine, vivida por Bulle Ogier já que Deneuve infelizmente recusou o papel, e Husson, vivido novamente por Michel Piccoli.

O filme não poderia começar melhor: a orquestra da Fundação Calouste Gulbenkain interpreta a Sinfonia nº 8 de Anton Dvorak e, na platéia, Husson revê de relance Severine, passando a persegui-la pelas ruas de Paris até finalmente conseguir encontrá-la e interpelá-la, propondo um jantar.

Paris, boa música, bons atores, a elegante câmera e a sensibilidade de Oliveira ao filmar e engedrar a história são fatores que diferenciam o trabalho do cineasta de qualquer outro. Mas, a homenagem, a relação entre os dois filmes faz com que Belle Toujours - Sempre Bela fique preso a um universo de referências sem se permitir ou almejar vôos maiores. Por outro lado, isso é positivo, demonstra a humildade de Oliveira ao se posicionar e criar seu filme, uma poética e despretensiosa brincadeira, construída para resultar no jantar à luz de velas no qual Husson atormentará Severine em relação aos fantasmas de seu passado.

Sádico, perverso, Husson nega a Severine a resposta que tanto a angustia: se seu marido sabia ou não de suas aventuras extraconjugais. Com a crueldade impar que só os burgueses têm, Husson a deixa no escuro. Nada acrescenta - e nem poderia - ao que já nos foi dado e contado pelo filme de Buñuel, inspirado no livro de Joseph Kessel.

Dessa forma, o mestre Manoel Oliveira parece dizer que tudo está ali e, de forma respeitosa, cria seu filme-homenagem, uma digna louvação ao cinema e a humildade.

Cid Nader é editor do cinequanon.art.br

Nota do Crítico
Ótimo