Não é só no nome da protagonista, Cooper, que Belas e Perseguidas (Hot Pursuit, 2015) se parece com outra comédia de ação recém-lançada, A Espiã que Sabia de Menos. Tanto Melissa McCarthy no filme de Paul Feig quanto agora Reese Witherspoon têm na aceitação de sua feminilidade o ponto de virada de suas histórias.
Está cheio de boas intenções o filme da diretora Anne Fletcher (A Proposta, Vestida para Casar), com seu tímido protofeminismo e seu discurso contra os estereótipos. Na trama, Cooper é a policial reprimida que precisa escoltar a esposa colombiana (Sofia Vergara) de um traficante até o tribunal onde ele testemunhará contra o chefão. Não demoram muitos tiroteios para o plano inicial de Cooper ser todo desfeito.
A trama que revisita Fuga à Meia-Noite (1988) e tantos outros filmes de perseguição com uma dupla de opostos encontra em Belas e Perseguidas um par de protagonistas de fato polarizado: Reese e Sofia não poderiam ser mais diferentes, a primeira pequena, frágil, estridente, e a segunda absolutamente operística. É nessa comparação que o filme almeja encontrar um meio termo que, no discurso afirmativo de Fletcher, sirva para inspirar todas as mulheres, sem distinção.
Tudo muito edificante, sem dúvida, mas, enquanto comédia, Belas e Perseguidas em nenhum momento consegue o mesmo brilho de A Espiã que Sabia de Menos, um filme de discurso e execução muito mais ousados e engraçados. Se Sofia Vergara já provou antes na televisão que tem mesmo vocação para o humor histriônico, Reese faz rir nervosamente pelo motivo contrário, sua completa inépcia de ser engraçada.
Fletcher não colabora muito. Se à primeira vista Sofia e Reese fazem um par de opostos ideal, no desenrolar do filme a diretora não consegue criar entre as duas uma química mínima (de diálogos, de timing) que permita a empatia do espectador. Os poucos momentos em que Belas e Perseguidas parece se arriscar são efêmeros, como a cena da Reese Justin Bieber (saber levar os estereótipos ao limite do seu potencial cômico é outra lição que Fletcher poderia aprender com Feig).
No mais, é coisa grave quando uma comédia chega ao fim e até mesmo os erros de gravação depois dos créditos finais parecem ensaiados demais.