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Battleship - A Batalha dos Mares | Crítica

Guerra politicamente correta

10.05.2012, às 18H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H33

Não havia ideia mais bizarra que a de transformar um jogo que é quase um bingo temático de guerra, o Battleship (mais conhecido por aqui como Batalha Naval), em longa-metragem hollywoodiano.

Battleship

Battleship

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Prova incontestável da capacidade dos roteiristas dos EUA de adaptarem qualquer coisa como filme (seleção natural da Meca do cinema nestes tempos da quadrifeta "remake - sequência - adaptação - reboot"), Battleship - A Batalha dos Mares não apenas consegue ser uma diversão decente como também traz ideias inteligentes, especialmente sobre como usar um dos temas favoritos dos estadunidenses - o binômio guerra e patrotismo - de maneira amigável ao mercado internacional, hoje importantíssimo para a sobrevivência de Hollywood.

Na trama, a NASA descobre um planeta capaz de sustentar vida, já que tem massa e distância a um sol semelhantes às da Terra. Envia então ao espaço um sinal, disparado a partir de uma instalação no Havaí, lançado para dizer que "estamos aqui". Anos depois, a resposta chega na forma de uma frota enviada para nos exterminar. Mas os aliens escolheram uma má hora para nos infernizar: a instalação fica justamente ao lado de uma das mais famosas bases navais do mundo, Pearl Harbor, que está abrigando um encontro internacional de Marinhas para exercícios de guerra.

A escolha de Pearl Harbor não é por acaso. A base, cujo ataque em 7 de dezembro de 1941 pelos japoneses "viverá na infâmia", carrega meio-século de rancor. Assim, quer maneira melhor de açucarar o coração do público internacional, que torce o nariz para patriotadas made in USA, do que colocar ombro a ombro, ali nesse palco tão difícil, um capitão ianque (Taylor Kitsch) e um oficial japonês (Tadanobu Asano, para o desgosto imortal de Franklin Delano Roosevelt), como linha de frente no combate a alienígenas?

Com os combatentes posicionados, começa a partida - e um campo-de-força literalmente transforma um pedaço do Havaí e Pearl Harbor em um tabuleiro gigante. Ninguém entra, ninguém sai, e as estratégias começam a ser formar. Essa é a parte bacana de Battleship: o confronto inteligente, de parcos recursos contra um oponente insuperável, em cenas de ação grandiosas.

Nem tudo é perfeito, porém. A necessidade dos alívios cômicos (me pergunto se em guerras de verdade alguém tem estômago para piadas) surge na forma de um núcleo paralelo formado pela namorada do personagem de Kitsch, uma fisioterapeuta (Brooklin Decker), que se junta a um ex-soldado amputado (Gregory D. Gadson) e um cientista nerd (Hamish Linklater) para enfrentar os aliens em outro terreno. Diálogos muito ruins e pose em excesso tornam essas cenas parecidas demais com o que há de pior em Transformers (Decker é a Megan Fox da vez).

A previsibilidade é outro problema. Há personagens que são apresentados no começo, para justificar seu uso no clímax, que chegam sem qualquer surpresa. Pelo menos isso acontece ao som de AC/DC - o que torna qualquer coisa melhor. Falta o que fazer também a Rihanna (que só aparece para fazer cara de durona e soltar frases de efeito, limitação gerada por este ser seu primeiro papel como atriz) e Liam Neeson, que tem utilidade no começo e no fim, mas desaparece completamente durante o "jogo". A lógica alienígena, se analisada com mais critério, também desmorona, tornando este um dos filmes mais curiosamente divertidos, mas que não sobrevivem a qualquer escrutínio, do cinema recente.

Muito mais interessante é como o filme é, ao final, uma celebração guerreira do analógico, do velho e do supostamente inútil, substituído em detrimento do digital, do moderno. Ironia máxima em um filme em que a computação gráfica e os efeitos especiais imperam (nem Taylor Kitsch é ele mesmo na cena do pênalti!). Com o rumo que o desfecho toma, não há como não querer colocar um disco na vitrola para ouvi-lo ao lado do seu avô. O analógico oficialmente agora integra o mundo do politicamente correto.

Nota do Crítico
Bom