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Austin Powers em o Homem do Membro de Ouro | Crítica

Austin Powers está de volta!

13.09.2002, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H13

Ninguém mais leva a sério o venerável James Bond. As sátiras ao agente secreto surgem aos montes. Por exemplo, Austin Powers - Um Agente Nada Discreto (Austin Powers: International man of mystery, 1997) e Austin Powers - O Agente Bond Cama (Austin Powers: The spy who shagged me, 1999), do comediante Mike Myers e do diretor Jay Roach.

A estréia da terceira película da série, Austin Powers em O Homem do Membro de Ouro (Austin Powers in Goldmember, 2002), porém, traz uma constatação diferente. Powers, o agente brega, de dentes podres, mas extremamente sedutor, deixa de ser uma caricatura de 007 e ganha autonomia própria.

Os números comprovam. Goldmember é a comédia mais bem-sucedida da história. Em seu fim-de-semana de estréia, nos Estados Unidos, arrecadou assombrosos 73 milhões, mais do que o dobro de O mundo não é o bastante (The world is not enough, de Michael Apted, 1999), a última aventura de Bond, no mesmo período. Já na tela, a referência limita-se ao título - que, em inglês, brinca com 007 contra Goldfinger (Goldfinger, de Guy Hamilton, 1964), em português, lembra O homem da pistola de ouro (The man with the golden gun, também de Hamilton, 1974).

As comparações param aí. O negócio agora é a auto-paródia (a seqüência inicial vale o ingresso). O enredo traça sua independência ao reforçar e refazer as piadas dos filmes anteriores e os bordões do herói, além de ostentar diversas participações especialíssimas.

Ao lado de uma nova agente, Foxxy Cleopatra (Beyoncé Knowles, uma das mulatas-loiras do grupo de R&B Destinys Child), Powers continua a sua batalha interminável contra o Dr. Evil (também Myers) e os seus asseclas, Mini-Me (o anão Verne Troyer) e o obeso escocês Igordão (Myers, de novo). Paralelamente, porém, tem outro problema com que se preocupar: seu pai, Nigel Powers (Michael Caine, devidamente caracterizado) foi seqüestrado pelo vilão insurgente conhecido como Goldmember, um patinador holandês, espécie de Midas da sacanagem, que foge numa máquina do tempo para 1975.

Com o bizarro personagem, o comediante bate o recorde do filme anterior - interpreta quatro tipos absolutamente diferentes. Dentro deste panorama, em que Myers recebe um cachê de galã, 25 milhões, e também responde pelo roteiro, sobra pouco espaço ao diretor Roach, também responsável por Entrando numa Fria (Meet the parents, 2000). Como resultado, fica prejudicado o desenvolvimento da história, uma ida-e-vinda sem nexo entre passado e presente, entre gêneros como o Musical e a Ação, entre vários clímax e mudanças inconstantes. Dentre os três filmes, é a trama mais pobre.

Em compensação, várias tiradas inspiradas garantem a diversão - por mais que algumas delas, como palavras de duplo sentido, a brincadeira com Fred Savage (sim, ele mesmo, de Anos incríveis!) ou o escárnio com o sotaque dos holandeses percam efeito na esforçada legendagem. No fim, fica uma sensação: mesmo que o filme caia na escatologia, e que Powers repita Yeah, Baby, yeah a níveis extremos, perto da saturação, Myers ainda tem duas, três boas piadas para contar.

Nota do Crítico
Bom