Filmes

Crítica

Atômica | Crítica

David Leitch replica e melhora a fórmula de John Wick em filme de espiões na Guerra Fria

13.03.2017, às 23H06.
Atualizada em 14.03.2017, ÀS 00H01

A agente secreta Lorraine (Charlize Theron) encontra cinco inimigos dentro de um quarto. Sem muitas armas disponíveis a moça pega uma corda dourada e usa contra os sujeitos. Entre uma laçada e outra, a espiã distribui e recebe socos e chutes pesados. A elegância das vestimentas não se perde, apesar do combate intenso. E no fundo, a trilha toca "Father Figure", de George Michael.

Nenhum dos ingredientes da cena é aleatório. A sequência abre Atômica (Atomic Blonde), novo filme de David Leitch, co-diretor de John Wick, e apresenta a protagonista de forma sucinta. Lorraine é a Mulher-Maravilha da espionagem não só pelo laço que usa para expugnar o mal dos adversários, mas também pela imponência que se porta frente às situações adversas. Mesmo dentro do jogo duplo dos espiões, ela discerne o certo do errado e não precisa de um guia ou um braço amigo. Ela é a figura necessária para qualquer ocasião, como George Michael diz na canção.

A Guerra Fria é o cenário histórico escolhido para a história, que é baseada na HQ The Coldest City. Lorraine se vê envolvida em numa confusão entre membros de agência de segurança dos EUA, Inglaterra e Alemanha. Conta a história em forma de flashback, usando uma mesa de interrogatório como respiro para as cenas de ação que replicam com certas alterações aquelas vistas em John Wick. Leitch deixa de lado o bale das artes marciais e balas na cabeça para apresentar uma coreografia mais violenta e impactante. Na trilha, sai a orquestra e entram clássicos das décadas de 80/90. Receita diferente, resultado semelhante.

Tudo que experimentou em termos de fotografia em John Wick, Leitch extrapola em Atômica. Os planos sequência aqui são mais intensos e longos. Uma luta na escada se estende por quase 15 minutos, mistura corpo a corpo, tiros, saltos, perseguição de carros, facas e piadas - afinal, o roteiro sabe como tratar o absurdo, sem desmerecer a protagonista. A combinação entre a ação brutal, os neons de uma Berlim suja e uma trilha que quebra o clima soturno do submundo da espionagem é tão boa quanto inusitada. Vistos de forma separada, os elementos de Atômica não parecem se encaixar, mas o roteiro de Kurt Johnstead faz esse trabalho usando o sarcasmo e a presença de Lorraine como liga.

A imponência da agente causa adoração e os poucos momentos de vulnerabilidade trazem humanidade à personagem. A economia nos diálogos também dá espaço para um alívio cômico sem piadas explícitas. O humor de Atômica vem no exagero das quedas, ao estilo videocassetadas, ou do desprezo pelos engravatado que ficam atrás de mesas.

De novo, nada parece por acaso - e aí reside boa parte dos êxitos do longa. Atômica é metódico e certeiro. E como sua protagonista, deixa claro qual o objetivo desde o início.

Nota do Crítico
Ótimo