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Crítica

Assombração | Crítica

Assombração

MH
03.08.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H20

Assombração
Gwai Wik/Re-Cycle
Coréia do Sul, 2006
Terror - 85 min

Direção: Danny Pang e Oxide Pang Chun
Roteiro: Sam Lung, Oxide Pang Chun, Danny Pang, Thomas Pang e Cub Chin

Elenco: Angelica Lee Sinje, Lawrence Chou, Ekin Cheng, Siu-Ming Lau, Rain Li

No último Festival de Cannes, o mercado de filmes assistiu a um fenômeno. Surgido do nada, Re-cycle, dos irmãos chineses Danny e Oxide Pang, chamado originalmente Gwai wik, foi o longa que mais vendeu entre os distribuidores internacionais. Constatação assim só pode significar que o filme é decente. Mas cuidado: pessoas, especialmente executivos da área, não compram filmes, e sim fórmulas.

O simples fato do título brasileiro ter sido traduzido para Assombração já sinaliza o tipo de fórmula em que ele está sendo enquadrado: o terror oriental. Acontece que Re-cycle não vendeu horrores por acaso - o filme é, como o seu próprio nome diz, uma reciclagem de referências variadas. Da fantasia de Hayao Miyazaki aos zumbis do gore americano, passando por autoplágios, tudo cabe no moedor de carne dos Pang. Definitivamente, Assombração não é um terror apenas.

Mas começa como tal. A escritora Chu Xun (a malaia Angelica Lee) acaba de ver seu best-seller romântico sendo adaptado para o cinema. Na coletiva, ela diz que alguns elementos são autobiográficos. Não conseguiria trabalhar um tema sem tê-lo vivido, diz ela. Chu Xun está com dificuldades para engrenar em seu novo livro, uma história sobrenatural. Em seu apartamento em Hong Kong, coisas estranhas começam a acontecer. Espíritos invadem seu espaço - e passam a influenciar o texto.

Dá quase para antecipar os sustos; eles acontecem nos locais mais manjados do gênero. Cabelos no banheiro, vultos às costas, sinistros murmúrios no telefone, elevadores que andam sozinhos... Se não há novidade até aqui, para aterrorizar os espectadores os irmãos Pang exercitam a sua especialidade: o exagero. A trilha sonora no talo se mistura com os barulhos do telefone que se misturam com os gritos de Chu Xun. Minimalismos de mizagem e sala de edição não é com eles - como os dois já mostraram ao montar, e quase estragar com redundâncias várias, o bom policial Conflitos internos (Infernal affairs, 2002).

A boa notícia é que o enlatado de terror logo cede espaço ao realismo fantástico. Chu Xun há tempos já se deixou levar pelo que ditam os espíritos. E eles a conduzem a um mundo de bizarrices. Corpos que subitamente caem do céu (esse é o ponto em que eles autocopiam o efeito dramático de Visões) são apenas o primeiro sinal de que as leis naturais deixaram de vigorar. Aqui é bom nem contar muito. A graça de Assombração é descobrir a próxima vertigem.

Se Danny e Oxide Pang tropeçam na dose da trilha sonora, dos maneirismos de edição, da hiperdramatização, pelo menos se mostram bons de câmera. De enquadramento eles entendem - o close-up fecha de maneira que potencializa os sustos (a cabeça do fantasma na porta de metal é coisa de gênio), o plano abre quando a mudança de cenário exige e a câmera passeia sem ruídos entre um foco de pavor e outro (a sequência na floresta dos enforcados é um bom exemplo desse timing).

Provavelmente foi o impacto visual que vendeu tanto em Cannes. De fato, se alguém procura Assombração pelo espetáculo, o ingresso se paga. Mas há algo no filme que permaneça além do fim da sessão, além do medley de citações?

Sim, e nesse ponto é legal ter consciência do contexto em que os irmãos Pang atuam - o tempo de uma Hong Kong prestes a ser reanexada à China, abalroada pela rápida transformação, que ignora milênios de tradição para erguer arranha-céus com uma fachada espelhada só. Se o recente terror oriental é marcado por um certo pavor da modernidade - quantos filmes dos últimos anos mostram fantasmas em celulares, internet, televisores, shopping centers? - Assombração reafima esse pavor e aponta a fuga.

O caminho de Chu Xun é, sob vários aspectos, tanto uma viagem de regressão ao Oriente profundo quanto um contato com o Oriente dos esquecidos. A personagem deixa seu apartamento clean para ingressar num mundo de favelas verticais, de parques de diversões abandonados, de cavalos de madeira ao som de marchas seculares, de matas que se dizimam, de pontes medievais, de livros. Na história, os livros simbolizam a imaginação que Chu Xun descartou como escritora, mas no fundo a cena tem caráter muito mais político.

A Hong Kong de hoje, dizem com imagens os irmãos Pang, se derruba, se recicla e se reconstrói com a maior das facilidades, mas não encontra lugar para os seus livros. Isto é, para a sua História.

Nota do Crítico

Bom
Marcelo Hessel

Assombração

Gwai wik

2006
04.08.2006
108 min
Terror
País: Tailândia, Hong Kong
Classificação: 12 anos
Direção: Oxide Pang Chun, Danny Pang
Elenco: Angelica Lee, Lawrence Chou, Viraiwon Jauwseng, Ekin Cheng, Soi Cheang, Lau Siu-Ming, Rain Li, Zeng Qi Qi, Jetrin Wattanasin, Yaqi Zeng