Filmes

Crítica

Assassin's Creed | Crítica

Sem reverência à franquia de games, Justin Kurzel faz adaptação com estilo próprio

19.12.2016, às 17H01.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H26

Assassin's Creed é o tipo de game que nasceu para chegar aos cinemas. A iniciativa partiu da Ubisoft e chegou a Michael Fassbender, astro de Hollywood que, além de protagonizar, produz o primeiro filme da franquia. Ao lado dele, na cadeira de diretor, está Justin Kurzel, com quem trabalhou junto no mais novo MacBeth. A parceria novamente dá certo e consegue finalmente adaptar um game para a telona com dignidade.

A receita para esse sucesso, tão almejado por séries como Tomb Raider, Warcraft e outros, foi o mínimo de reverência possível aos jogos. O roteiro de Michael Lesslie, Adam Cooper e Bill Collage suga da franquia conceitos básicos para entender o que faz dela um sucesso. Entre eles, o embate entre assassinos e templários, o funcionamento do Animus e o poder da Maçã do Éden. Nem todos são desenvolvidos de forma correta, mas  cumprem o papel de situar o espectador em um novo mundo.

A história também segue essa mistura de respeito e desrespeito à série, como o próprio Fassbender gosta de dizer. Callum Lynch é um sujeito condenado à morte que se vê nas mãos de uma grande empresa, a Abstergo, servindo como um rato de laboratório para experiências. Ele é colocado dentro de uma máquina do tempo genética, o Animus, onde poderá reviver a trajetória de seus antepassados e descobrir o poder da Maçã do Éden, um artefato que esconde segredos sobre a criação da humanidade.

No meio dessa trama, o filme tenta incluir dilemas sobre violência e livre-arbítrio. E assim como os games, nenhum deles convence. O discurso repetido dos personagens de Marion Cottilard e Jeremy Irons sobre os perigos da liberdade não funcionam como o motor da história, que só avança de verdade quando mergulha da vida de Callum e Aguilar, o assassino vivido por Michael Fassbender. De todos os conceitos apresentados pelo longa, o único que vinga é do Credo dos Assassinos, que vivem para proteger o livre-arbítrio da humanidade - o que no fim das contas torna a aventura envolvente.

Muito deste acerto vem das soluções visuais de Kurzel, que se distancia dos games sempre que o ambiente lhe permite. O Animus, por exemplo, não lembra em nada a cadeira criada pela Ubisoft. Aqui a máquina de regressão genética é um braço mecânico misturado com realidade virtual, que permite tanto o experimento quanto o cientista assistir à viagem no tempo. Misturando cenas de época com sequências dentro do laboratório, Kurzel prende o espectador ao aprendizado de Callum e ao mesmo tempo torna os movimentos e as habilidades de Aguilar em algo fantástico.

Apesar do roteiro errar nas explicações exageradas sobre templários e a Maçã, na hora de apresentar os assassinos e construir a personalidade deles tudo se encaixa. O diretor elimina quase todas as falas e deixa a imagem montar o caráter de cada um dos personagens. Com tomadas aéreas belíssimas, Kurzel monta um ambiente com cara de sonho, com quadros embaçados e movimentos rápidos. As lutas, que têm um ritmo lento mas que valorizam os golpes, lembram os games e impressionam pela brutalidade sem violência - os socos são pesados, as quedas são tensas, mas sem muito sangue.

Assassin's Creed é um bom filme, independente se é uma adaptação ou não. Justin Kurzel e Michael Fassbender encontraram o equilíbrio entre reverência e liberdade à série, o que faz os personagens e o ambiente ter vida própria. Não existe fan service desnecessário ou frases sem sentido para criar identificação. O traço visual dado pelo diretor é digno da grandeza da franquia da Ubisoft e torna a experiência tão boa quanto a de alguns jogos. Finalmente os fãs de games têm alo para se orgulhar.

Nota do Crítico
Bom