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Crítica

Com Arco, Ugo Bienvenu mostra pureza na ânsia de mudar o próprio mundo

Animação francesa explora a inquietude juvenil pelo amadurecimento precoce

4 min de leitura
10.10.2025, às 10H26.
Atualizada em 10.10.2025, ÀS 10H42

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

Arco é uma criança decidida que crê entender das próprias prioridades. Habitante de um futuro distópico onde o mar tomou conta do planeta e a civilização teve que migrar para vilas acima das nuvens, ele sonha em conhecer dinossauros. Por mais inocente que pareça o desejo do jovem protagonista, para ele, essa realidade é mais do que possível. Sem terras para cultivar alimento ou criar gado, a sobrevivência da humanidade depende de incursões no tempo em busca de suprimentos.

Entretanto, a vontade do personagem-título da animação Arco parece tão distante de se realizar quanto a Terra está da Lua, já que ele não tem permissão de voar pelas eras devido à sua pouca idade. Por causa disso, o garoto decide tomar medidas drásticas para mudar o próprio mundo, e o filme de Ugo Bienvenu responde tomando sua escolha artística mais ousada. Dividindo a lógica visual do longa em duas escolas, ficamos com um mundo quase monocromático contraposto por um arco-íris literalmente sem fim.

Arco foge com um traje de viagem no tempo nada futurista. Um simples collant rosa e uma capa com listras multicoloridas substituem os conceitos mirabolantes de ficção científica, que normalmente incluiria máquinas do tempo ou ferramentas além da compreensão. Devidamente trajado, o jovem então dá seu grande salto rumo ao encontro das feras pré-históricas. Então, sua inexperiência e imaturidade ficam cada vez mais evidentes. Sem saber como controlar o poder roubado, ele despenca dos céus no ano de 2075, quando dinossauros estão extintos e robôs assumem todas as tarefas consideradas empecilhos — ideia que varia de pessoa em pessoa.

Nesse ponto, a história apresenta sua co-protagonista, Íris. Diferente do superprotegido Arco, a jovem foi criada com os pais distantes — para eles, a criação dos filhos era um fardo. Isso deu a Íris uma autonomia que o jovem viajante do tempo buscava. Sem pais por perto e sendo a irmã mais velha, ela tinha muito controle sobre as próprias ações, mesmo com seu robô babá sendo especialmente fraterno. Bienvenu, porém, faz questão de mostrar que essa suposta liberdade era limitada, já que em uma sociedade robótica, a gama de coisas que ela podia fazer é pouco variada.

Essa diferença entre a dupla, no entanto, torna o objetivo deles muito parecido. Ambos desejam dar cor às vidas monótonas que levavam, bem como a luz branca que refletida em um prisma cria um arco-íris. O diretor organiza cada camada de sua narrativa, uma por vez, como massa e manteiga na receita de croissant, e como no pão, logo tudo vira uma coisa só. Sem que os personagens percam sentido, ou que a força do enredo lógica se esvaia antes do grande final, Arco encontra formas de unir ambos dilemas –. um exemplo disso é como a decisão Arco de fugir muda seu mundo como ele queria, enquanto Íris, ao resgatá-lo, faz o mesmo com o próprio.

Ainda que coerente e compreensível, contudo, o filme não inova com grandes contribuições ao cinema de animação moderno. Em vez disso, o diretor aposta em recursos também encontrados em produções aclamadas, como Your Name, do animador Makoto Shinkai, e até mesmo Interestelar, de Christopher Nolan, boas referências, mas que sublinham a dificuldade do roteiro em acompanhar o grau de complexidade do visual. As piscadelas estéticas à gigantesca franquia Star Wars também são claras em diversos momentos, especialmente no visual deslumbrante do pós-apocalipse e na relação entre androides e humanos. Isso deixa claro que a escolha de Natalie Portman (Episódios I, II e III) como produtora da animação, não foi por acaso.

Essa fusão de elementos variados faz bem ao filme, que precisa de alguns clichês funcionais para dar conta de suas expectativas autoimpostas. E, apesar de ousado, o roteiro mantém os pés no chão mesmo quando Arco está no ar, e evita grandes tropeços nos próprios pés. Isso também vale para o traço 2D, que apesar de simples, flui muito bem em todos os momentos. Sem cores demais, computação gráfica exagerada ou um 3D que o estúdio poderia não sustentar, a animação cumpre seus objetivos sem arriscar parecer pedante.

Do início ao fim, a animação de Ugo Bienvenu funciona como um verdadeiro arco-íris: simples e natural, mas extremamente impressionante. Uma obra de arte que merece ser vista pela incerteza da repetição. Apostando na força da amizade e na infinitude do amor, Arco apresenta uma história guiada pela pureza e determinação, e nos ensina que são nos grandes saltos que aprendemos a voar.

Nota do Crítico

Arco

Arco (2025)

2025
82 min
País: França
Direção: Ugo Bienvenu
Roteiro: Ugo Bienvenu