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Apenas um Beijo | Crítica

Apenas um beijo

22.12.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H19

Apenas um beijo
Ae Fond Kiss, 2004
Reino Unido/Bélgica/ Alemanha/Itália/Espanha
Drama - 103 min

Direção: Ken Loach
Roteiro: Paul Laverty

Elenco:
Atta Yaqub, Eva Birthistle, Ahmad Riaz, Shamshad Akhtar, Gizala Avan, Shabana Bakhsh

Quantas vezes a mesma história pode ser contada sem se tornar repetitiva? Se o contador for bom, tal limite não existe. A prova disso é Apenas um beijo (Ae fond kiss, 2004), roteirizado por Paul Laverty e que completa a "trilogia escocesa" que o diretor Ken Loach começou com My name is Joe (1998) e continuou em Sweet sixteen (2002). A trama mostra um filho de imigrantes paquistaneses que vive em Glasgow (Escócia) e se apaixona pela professora de música de sua irmã caçula. Não bastasse a moça ser goree (branca), não muçulmana, ele está prometido para se casar com uma prima prestes a chegar ao Reino Unido.

Sim, temos aqui a clássica história do amor proibido, cujos personagens mais famosos são Romeu e Julieta. Mas o filme não é um drama no sentido mais shakespeariano da palavra e não há disputas diretas entre as famílias envolvidas. O choque aqui é de gerações e também de diferenças culturais e religiosas entre muçulmanos e católicos.

Enquanto Casim Khan (Atta Yaqub) tenta se livrar do casamento arranjado para viver o verdadeiro amor, sua irmã Rukhsana (Ghizala Avan) quer sair de casa para cursar jornalismo na Universidade de Edimburgo. Ao se mostrarem descontentes com os planos pré-determinados pelos pais, os dois estão envergonhando a família perante a sociedade muçulmana.

Mas engana-se quem pensa que as duras regras e o preconceito são exclusividade dos orientais. Para manter seu emprego na escola católica, Roisin (Eva Birthistle) tem que conseguir a assinatura do padre de sua paróquia. Mas ele sabe que ela está "vivendo no pecado" e braveja que sua aprovação só será dada quando ela pedir o divórcio à igreja, se casar novamente e prometer criar seus filhos seguindo os moldes cristãos.

Como se pode imaginar, Roisin e Casim terão muito o que discutir e é nisso que o veterano Ken Loach se destaca. O diretor tem um ótimo faro para descobrir atores desconhecidos ou até mesmo não-atores e tirar deles emoções reais. Ele procura sempre por pessoas que tenham passado por situações semelhantes em suas vidas e pede para que eles demonstrem esta experiência. Esta forma de não-atuação dá ao filme o realismo que o assunto pede.

Além de explorar as diferenças e apontar os pontos fracos dos dois lados, Loach mostra em segundo plano os motivos político e históricos da formação do Paquistão e uma sociedade em transformação. Enquanto a irmã mais velha de Casim aceitou pacientemente as escolhas tomadas por ela, e a caçula briga pela sua independência, Casim fica perdido. Ele ama sua família e não quer magoá-los, muito menos envergonhá-los, mas será que não há mesmo outra forma de viver sem ter que abrir mão do seu amor?

Uma curiosidade: o poema "Ae fond kiss" que dá o título original ao filme foi escrito pelo Robert Burns (1759-1796), conhecido por escrever em "escocês", misturando palavras gaélicas, com o inglês e a forma bastante particular com que os escoceses falam.

Nota do Crítico
Ótimo