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Anjos da Lei 2 | Crítica

Continuação aposta no garantido e, ao mesmo tempo, leva as comédias de bromance ao ponto de ruptura

16.10.2014, às 18H27.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H24

A comédia americana recente, de um modo geral, trabalha bastante em cima do humor de autoreferências. O que faz os filmes de Phil Lord e Chris Miller se diferenciar é o volume frenético desse tipo de piada, seja nas animações Tá Chovendo Hambúrguer e Uma Aventura LEGO, seja em Anjos da Lei. Nesse sentido, Anjos da Lei 2 (22 Jump Street) fica um pouco atrás - é como se Lord e Miller não conseguissem acompanhar mais seu próprio ritmo.

anjos da lei

O filme começa com as autoreferências sem perder tempo, com uma cartela "Anteriormente, em Anjos da Lei" que zoa as origens do filme na televisão e, por tabela, reapresenta com velocidade a dupla de policiais Schmidt (Jonah Hill) e Jenko (Channing Tatum). Mais ironias para expor a premissa: a divisão de oficiais infiltrados se mudou para o número 22 da Rua Jump (e devem expandir para o número 23 se houver outra continuação) e eles vão repetir tudo o que deu certo na história do primeiro filme, só que agora com Schmidt e Jenko na faculdade.

Quando o espectador depara com o personagem de Ice Cube em seu novo e caríssimo escritório, instalado dentro de um cubo de vidro ("Parece um cubo de gelo!", diz a dupla), é que podemos entender um pouco a liberdade que Lord e Miller desfrutam para transformar mesmo o trocadilho mais indigente em gag visual. Essa capacidade de traduzir toda e qualquer piada literal em imagens, num ritmo acelerado, incessante e sem filtros, sempre foi o diferencial da dupla, nestes tempos de público com déficit de atenção, saturado com a cultura da ironia na Internet. Em cenas como essa, Anjos da Lei 2 parece se renovar e oferecer alguma novidade, mesmo que seja a partir da autoreferência.

É um ritmo, porém, que os diretores não sustentam até o final, num filme que começa a sentir o peso de uma fórmula em processo de esgotamento. Mesmo cenas hilárias como a viagem alucinógena de droga jogam com ideias que no filme anterior foram trabalhadas com mais arrojo e velocidade. Da mesma forma, a subtrama "amorosa" entre Schmidt e Jenko, que passam o filme inteiro discutindo sua relação, se aproxima de outras comédias que satirizam o homoerotismo desta era pós-bromance, como É o Fim e Vizinhos. Nesse caso, como em outros, o que Anjos da Lei 2 tem de particular é sua falta de medida: Jonah Hill nunca atuou tão afetado, como se sua caracterização gay de Schmidt tivesse sido pensada para lhe dar o Oscar.

O exagero faz parte. O que se espera das melhores comédias é, justamente, que elas testem os limites - não há lugar no humor para o bom gosto. Phil Lord e Chris Miller sabem disso, e tentam levar temas como o bromance ao seu ponto de ruptura. Mesmo assim, Anjos da Lei 2 não termina sem aquela impressão de que algo, no processo da dupla, começou a rodar no automático.

Anjos da Lei 2 | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Bom