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Aniquilação | Crítica

Novo filme do diretor de Ex Machina disponível na Netflix é um conto de terror cósmico disfarçado de ficção científica

12.03.2018, às 15H04.

Alex Garland é um dos nomes mais promissores da ficção científica. Com uma carreira como roteirista de filmes como Extermínio (2002) e Dredd (2012) e jogos como DmC: Devil May Cry (2013), o cineasta fez sua estreia como diretor com Ex Machina (2014), um sci-fi de peso, vencedor do Oscar em efeitos visuais e indicado na categoria de Melhor Roteiro Original. Agora, Garland retorna mais uma vez ao gênero com Aniquilação.

Adaptação da obra de Jeff Vandermeer, a trama acompanha Lena (Natalie Portman), viúva, ex-militar e bióloga, que vê no misterioso retorno de seu marido Kane (Oscar Isaac) após um ano dado como morto em missão para investigar a Área X, uma espécie de distorção que está se alastrando e pode representar uma ameaça à raça humana. Essa volta faz com que Lena se junte a outras pesquisadoras para investigar a natureza dos acontecimentos dentro da Área X.

A jornada ao mistério é um crescendo, tornando-se cada vez mais estranha, perigosa e enlouquecedora às exploradoras. Ainda que o longa se venda como um sci-fi, Aniquilação se assemelha mais a um conto de terror cósmico, subgênero da literatura popularizado por Robert W. Chambers (O Rei de Amarelo) e H.P. Lovecraft (O Chamado de Cthulhu) em que narradores não-confiáveis falam sobre experiências capazes de mudar toda a percepção da raça humana com um mero olhar.

Desde o início é certo que Lena é a única sobrevivente da expedição, onde reconta a jornada a um grupo de médicos - nem sempre sendo verdadeira sobre o que encontrou na Área X. A trama também comenta a condição humana e o eterno ciclo de nascimento e morte, com seus momentos finais fazendo o espectador confrontar a possível impotência, despreparo e insignificância dos humanos perante o restante do universo.

O elenco também é um destaque: além de Portman e Isaac, conta também com Tessa Thompson (Thor: Ragnarok), Jennifer Jason Leigh (Twin Peaks), Gina Rodriguez (Jane the Virgin) e Tuva Novotny (Comer Rezar Amar). Infelizmente, o talento é pouco aproveitado já que as personagens são pouco desenvolvidas além da irritação e confusão. Se quer seguir o exemplo de Enigma de Outro Mundo (1982), é preciso levar as intérpretes ao limite, onde o espectador realmente acredita que a situação cria pessoas instáveis, voltando-se uns contra os outros.

A linguagem visual também deixa a desejar. Apesar da história e ritmo em constante progressão, os planos continuam parados e pouco inspirados por todo o filme. O trabalho de câmera não muda nem mesmo quando as coisas mais estranhas passam a acontecer - transformação muito bem representada na trilha sonora com a introdução tardia dos sintetizadores, passando a sensação de algo de outro mundo. Mesmo com belas e coloridas paisagens, a linguagem do longa rapidamente torna-se tediosa.

Garland novamente provou ser um excelente roteirista de gênero, que levanta questões afiadas sobre a condição humana, mas acaba pecando na hora de ilustrar isso. Considerando que tanto Dredd quanto Ex Machina são histórias focadas, talvez o problema tenha sido na hora de desenvolver um mundo maior e vívido, que vai além de um prédio tomado por criminosos ou a casa de um excêntrico inventor.

Em alguns aspectos, Aniquilação entrega muito menos do que é capaz - mas o resultado final ainda é algo memorável e perturbador. São raros os exemplos de terror cósmico que funcionam fora da literatura - como a primeira temporada de True Detective. O filme tropeça aqui e ali na hora de traduzir o horror existencial que permeia a mente dos leitores, mas no fim das contas faz o espectador refletir um pouco a relação da humanidade com tudo ao seu redor.

Nota do Crítico
Bom