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Se a primeira cena serve para resumir um personagem ao espectador, a vida de Olivia (Jennifer Aniston) não é nada promissora. Ela começa Amigas com dinheiro (Friends with money, 2006) no dilema de usar ou não um vibrador. Pior. Mais adiante no filme descobrimos que o consolo nem era dela. Solteira há bastante tempo, sem dinheiro nem perspectivas, resta à Olivia a solidão até no sexo.
Mas se ela está vivendo sob uma nuvem negra, é difícil dizer o mesmo de suas amigas. Todas elas estão casadas, com filhos e não demonstram o menor problema financeiro. Em um jantar a sete, em que Olivia é a única desacompanhada, o delicado assunto vem à tona. Frannie (Joan Cusack) e Matt (Greg Germann) formam o casal perfeito. Sua vida sexual é ótima, os filhos estão saudáveis e dinheiro definitivamente não é problema. Prova disso são os 2 milhões de dólares que estão prestes a doar. Por que você não dá este dinheiro à Olivia?, pergunta a bem-sucedida designer de moda Jane (Frances McDormand), que tem o costume de falar o que pensa. A pergunta soa inadequada, mas é bastante pertinente.
O papel de Jennifer Aniston em Amigas com dinheiro é quase uma continuação da sua personagem em Por um sentido na vida. Se no filme independente de 2002 ela interpretava uma vendedora de cosméticos em uma decadente loja de departamentos, aqui ela faz uma ex-professora que cansa de ser maltratada pelos alunos riquinhos e decide largar o magistério. Adepta da cannabis sativa, ela agora vive fazendo bicos como faxineira. Sua vida é tão diferente das demais que elas mesmas dizem que se tivessem se conhecido hoje dificilmente teriam a mesma amizade. Parece até que Olivia está ali apenas para lembrá-las que, por pior que pareça, suas vidas não são tão ruins como a da amiga que virou diarista.
Ex-friend sem glamour
O fato de ser bonita, rica e famosa - sonho de muita gente - acaba sendo um grande problema para Aniston. Para provar que tem talento, ela tem de encarar papéis nada glamourosos, como este. O questão é: alguém realmente consegue vê-la passando aspirador de pó no tapete da sala e lavando banheiros para viver? Difícil, né? Este é o trabalho da roteirista e diretora Nicole Holofcener em seu terceiro longa-metragem - e nesta proposta ela falha. Porém, apesar de não conseguir tirar de Aniston sua melhor atuação, ela consegue de seu elenco algo mais difícil: transportar para a película a realidade de muitas mulheres, sem soar falso.
Com seus diálogos sobre sexo e dinheiro, Holofcener vai construindo situações do dia-a-dia. Como na vida de qualquer um de nós, alegrias e frustrações podem surgir a qualquer momento. Enquanto Frannie e Matt passam por um momento de sublimação, o casamento de Christine (Catherine Keener) e David (Jason Isaacs) está desmoronando. E embora Jane e Aaron (Simon McBurney) tenham um ótimo relacionamento, as amigas não entendem como Jane consegue viver ao lado de alguém tão efeminado. E por aí vai. A grama do vizinho pode ser mais verde, mas o lixo dele é bem mais fedido!
Mas se é nestas horas comuns que o filme consegue seus melhores momentos, ele não demora a se trair, jogando na história situações nada realistas. Afinal, como explicar o percentual do seu suado salário que Olivia dá para o namorado que só vai até lá para tentar uma rapidinha na casa dos outros? E aquele final de conto de fadas, então? Parece que faltou à diretora uma amiga de verdade, que apontasse os erros. Ei, amigo também é para essas coisas!