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Além da Estrada | Crítica

Road movie mostra um Uruguai tão perdido quanto os protagonistas

08.09.2011, às 19H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H27

O road movie é, por definição, um gênero que mostra um protagonista perdido, buscando descobrir-se. O brasileiro Charly Braun, estreante em longas-metragens, se jogou nas estradas do Uruguai com sua equipe e os atores Esteban Feune de Colombi e Jill Mulleady e participou intensamente destas descobertas. O filme, porém, não demonstra as mesmas incertezas que acometem os personagens Santiago (Colombi) e Juliette (Mulleady). Trata-se de uma direção segura e bastante estilosa.

Além da Estrada

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Antes de cair na estrada, Braun já tinha dois premiados curtas-metragens na bagagem, Quero Ser Jack White e Do Mundo Não Se Leva Nada. Além disso, havia feito os making-ofs de O Cheiro do Ralo, Última Parada 174, e Natimorto. E esta experiência nos bastidores do cinema se mostra bastante útil em Além da Estrada. Ao encontrar personagens reais e interessantes pelo caminho, Braun deixa sua câmera rodando e se apossa de suas histórias, tornando-as parte do filme, tudo isso sem perder a espontaneidade. É um voyeurismo saudável que só acrescenta ao resultado final, quebrando barreiras entre o ficcional e o real de forma enriquecedora para os personagens e os espectadores.

Durante a viagem vamos conhecendo melhor este vizinho que só nos chama a atenção quando estamos no meio de um campeonato de futebol. O Uruguai que vemos é bastante pobre e destruído, mas também simpático e muito acolhedor. Santiago e Juliette estão ali por motivos diferentes, mas com um caminho que acaba se cruzando e seguindo paralelo. Ele, argentino, perdeu os pais recentemente e está indo ver um terreno comprado há muito tempo. Ela está fugindo do sistema que a "forçava" a ser uma garçonete na sua Bélgica natal, partindo agora atrás de um uruguaio que conheceu na Europa.

Entre o começo e o fim, os dois vão se conhecendo melhor e há sempre ali a esperança de algo mais. Mas nada é feito às pressas. Todas as situações apresentadas - do sarau à vernissage de seu tio ou uma visita a uma feira de cavalos - são recheadas de situações reais. Os dois personagens não ficam forçadamente juntos o tempo todo e esta individualidade é importantíssima ao desfecho, que acontece em uma comunidade hippie.

O resultado final é de uma beleza que inicialmente não condiz com a inexperiência de alguém fazendo seu primeiro filme. A firmeza com que capta os detalhes e varre os pampas uruguaios, desnudando o país e as pessoas que vai conhecendo no caminho são de alguém que sabe o que está fazendo. Mas cuidado: ao ver Além da Estrada você vai ficar com vontade de sair também de carro por aí ou fazer um road movie. Ou, se possível, as duas coisas, mas criar algo tão incitante não é tão fácil como Braun faz crer.

Nota do Crítico
Ótimo