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Achados e Perdidos | Crítica

Achados e perdidos

27.04.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H19

Achados e perdidos
Brasil/Chile, 2005
Policial - 100 min

Direção: José Joffily
Roteiro: Paulo Halm, Jorge Durán, baseado no romance de Luiz Alfredo garcia-Roza

Elenco: Antonio Fagundes, Zezé Polessa, Juliana Knust, Genésio de Barros, Malu Galli, Isaac Bernat, Babu Santana, Hugo Carvana, Roberto Bomtempo, Ricardo Blat, Flávio Bauraqui

Antes de mais nada, o que se percebe em Achados e perdidos (2005) são três verrugas na cara do ex-delegado Vieira, personagem de Antonio Fagundes. Não tem como não notar. Duas delas ao lado do olho esquerdo, outra na bochecha direita, protuberância rugosa tão grande que ganha o primeiro plano, botando todo o rosto do ator em perspectiva.

Acontece que Fagundes não tem verrugas na cara.

Em seguida, a prostituta Magali (Zezé Polessa) aparece nua e amarrada, com a cabeça ensacada, sobre uma cama. Zezé Polessa ressurge em seguida, num flashback, despindo-se num palco de boate. Não demora até que a atriz estreante Juliana Knust - no papel de outra garota de programa, a ambiciosa Flor - apareça fazendo topless na praia. Juliana volta exageradamente maquiada, também executando sua dança em traje nenhum.

Essa sucessão de desnudamentos (e closes em verrugas) logo no início do filme é utilizada com um único propósito pelo diretor José Joffily: eliminar a aura dos globais, tipo olha lá o Fagundes contracenando com aquelas duas da novela, e inseri-los no universo sujo da trama, o mais próximo possível dos personagens. Poucos filmes que elencam galãs e estrelas consagrados conseguem essa desglamourização - e Joffily merece reconhecimento ao menos por tentar.

De resto, esta adaptação do romance homônimo de Luiz Alfredo Garcia-Roza fracassa retumbantemente.

Os azares de Vieira são mais antigos do que o assassinato de Magali, do qual ele é o principal suspeito. Trinta anos atrás, quando ainda era policial, ele executava funções das quais não se orgulha. Hoje Vieira é uma carcaça barbuda (e verruguenta) em Copacabana cuja única ambição é solucionar a morte da prostituta de sua vida. Enquanto investiga, Flor cruza seu caminho - e se torna um consolo macio ao anti-herói.

Chavões hollywoodianos

O trabalho anterior de Joffily, Dois perdidos numa noite suja, também tinha como fonte material alheio. No caso, a forte peça de Plínio Marcos continha energia suficiente para render um filme decente, ainda que não genial. Aqui, a quantidade de obviedades e clichês policiais deixa a dúvida: será o livro de Garcia-Roza ruim assim ou foi o diretor que perdeu-se e não se achou mais?

O fato é que o roteirista Paulo Halm desconstruiu totalmente o livro. De thriller cheio de ação virou retrato meio noir da decadência de um policial. Achados e perdidos, originalmente, tinha como protagonista o investigador Espinosa, ao lado de Vieira. O que Halm e Joffily fizeram foi simplesmente limar o personagem principal da obra de Garcia-Roza. Este, no material divulgado à imprensa, diz não se preocupar: A passagem de livro para filme não é uma tradução, é uma mudança de linguagem, e esta não pode ser feita sem violência .

Ponto, portanto, para roteirista e diretor, pela coragem em transformar o material. Acontece que este noir melancólico ficou desbotado. As frases feitas do gênero, ditas em narração em off do atormentado Vieira, se acumulam: queria morrer, mas não tenho coragem de me matar , era como se Deus tivesse me dado uma segunda chance , a gente pensa que o tempo vai apagar, mas sangue não dá pra limpar ...

A trilha sonora de André Abujamra, marcada por um cadenciado trombone, empresta caráter ao mesmo funesto e sarcástico ao martírio do personagem. Pena que tudo ao seu redor se resuma a chavões hollywoodianos. Aliás, já reparou como todo personagem desliga a TV depois que vê uma notícia que lhe incomoda? Não falta aqui nem a reviravolta, aquela que revela intenções escondidas dos personagens, plot twist manjado desde o meio da história. Tapado mesmo é o Vieira, que com aquela verruga não enxerga nada debaixo do nariz.

Nota do Crítico
Ruim