Filmes

Crítica

A Pele

Drama ficcionaliza início de carreira da fotógrafa Diane Arbus

08.03.2007, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H22

Os fotógrafos, em sua maioria, execraram A Pele (Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus, 2007). Argumentam que o filme não faz justiça ao talento de Diane Arbus (1923-1971), ou sua vida e personalidade. Curiosamente, são justamente esses artistas, e sua suposta sensibilidade, que deveriam ter melhor entendido a proposta da produção.

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A Pele, como o próprio título original ("Um retrato imaginário de Diane Arbus") já escancara, não é uma cinebiografia convencional. A intenção do diretor Steven Shainberg é transportar a estranheza do trabalho da fotógrafa visionária às telas e tentar entender suas motivações. Para tanto, o roteiro de Erin Cressida Wilson inventa passagens na vida de Arbus, montando um cenário que investiga a obsessão dela pelo exótico e aberrante.

A história a pinta como uma mulher em busca de si mesma, mas que desconhece essa necessidade. Ela surge por acaso, num ímpeto artístico secreto - o de fotografar o novo e misterioso vizinho do andar de cima. Aliás, segredos e desejos não-convencionais são duas coisas que Shainberg e Wilson dominam. O trabalho anterior da dupla, o ótimo Secretária, de 2002, igualmente transborda desses temas. E as comparações param por aí. A Pele não tem a comédia do antecessor - mas muito mais sensualidade.

A direção de arte de Nick Ralbovsky (também de Secretária) e a fotografia do superpop Bill Pope (Homem-Aranha), contribuem para a aura de sexy estranheza do drama. Curiosamente, as cenas no hall do apartamento de Lionel lembram o trabalho de Pope em Matrix (1999). Como no filme dos Wachowski, aqui há também uma "toca do coelho", um portal que Arbus deve cruzar para seguir na sua jornada de auto-conhecimento.

No papel da fotógrafa está Nicole Kidman, em um de seus melhores trabalhos recentes. Ao seu lado, um irreconhecível Robert Downey Jr., ator que depois de uma fase dificílima tem obtido mais e melhores filmes. A transformação da atriz durante o drama, sua postura e atitude, consegue ser mais impressionante que a maquiagem de Downey Jr. - recoberto por uma densa pelagem castanha para viver Lionel, o vizinho aberração circense. A relação platônica e cheia de significado dos dois - que culmina numa metafórica e memorável seqüência - espelha muitas das crenças da artista, como "uma fotografia é um segredo sobre um segredo. Quanto mais ela te fala, menos você sabe", uma de suas frases mais conhecidas.

O que esperavam então os colegas de profissão de Arbus? Um "Mente Brilhante" da vez, uma glamourização dessa existência conflituosa, que acabou na vida real em suicídio com barbitúricos? E daí que o filme não acompanha seus estudos acadêmicos, ou a relação com outros fotógrafos famosos? A Pele é, sim, uma justa e inventiva homenagem a essa revolucionária artista.

Nota do Crítico
Bom