Filmes que passeiam entre a realidade e outros mundos costumam render lindos trabalhos de fotografia, figurino, cenário e efeitos visuais, mas correm sério risco de não acharem público para acompanhá-los nestas suas viagens. Enquanto uns como A Cela (2000) fracassam, outros como Matrix (1999) viram sinônimo de inovação cinemática.

A passagem (Stay, 2005), de Marc Forster, não consegue fugir à regra. Se obtém êxito no lado visual, deixa o caldo desandar na hora de contar sua história, baseada em um interessante argumento, mas que se torna tão intrincada que se perde na sua própria teia, arrastando-se até o fim.

Os personagens principais são o psiquiatra Sam Foster (Ewan McGregor), Henry Lethern (Ryan Gosling), um paciente que ele herdou de uma colega e que planeja se matar em poucos dias, e Lila (Naomi Watts), ex-paciente de Sam, que ele ajudou a superar uma tentativa de suicídio. Na sua tentativa de ajudar Henry, Sam passa a viver aquilo que ele mais teme, começa a perder a noção da realidade.

O diretor de fotografia Roberto Schaefer fez sua parte ao deixar o filme com um aspecto de arte experimental. Faltou aqui talvez uma mente menos linear que a do promissor Marc Forster (A última ceia e Em busca da terra do nunca) para torná-la mais interessante. Quem sabe este trabalho ficasse melhor nas mãos de um maluco como David Lynch? Dificilmente saberemos.

Como consolo, resta saber que o roteirista David Benioff (A última noite, Tróia) ganhou sua chance em Hollywood justamente devido a este trabalho. Que estas viagens pela cabeça de uma pessoa sirvam de aquecimento para o script da primeira aventura solo do Wolverine, para o qual ele já foi contratado. Afinal, quem é fã do baixinho canadense sabe que se existe uma mente perturbada que merece ser mostrada, é a do mutante que é o melhor naquilo que faz, mesmo que este serviço não seja nada bonito.