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Em exibição especial para convidados, executivos da distribuidora apresentaram um pequeno descritivo do filme antes de sua projeção. Resumidamente, disseram se tratar de uma salada cultural que contempla uma produção realizada por pessoas de diversos países latino-americanos. De fato, isso se comprova: o diretor Ricardo de Montreuil, o roteirista Jaime Bayly e o ator Christian Meier são peruanos, a atriz Bárbara Mori é uruguaia, o ator Manolo Cardona é colombiano e o outro ator, Beto Cuevas, é chileno. Só pra se ter uma idéia da confusão étnica em torno desse blockbuster pan-americano com cara de tratado do Mercosul.
Se houve com essa breve declamação qualquer indício de uma tentativa de união dos países emergentes em torno das questões intrinsecamente voltadas ao território hispânico, ledo engano. Mais do que exibir o colorido multicultural (diga-se de passagem, apagado demais nesse caso) dos ritmos latinos, a evidente intenção da distribuidora é apostar no mercado brasileiro, com características parecidas aos hermanos em certos aspectos, a fim de se repetir o êxito comercial que o filme alcançou do lado de lá das nossas fronteiras. A Mulher do meu Irmão atraiu 600 mil espectadores no México em apenas 10 dias de exibição, fazendo por lá uma bilheteria superior a US$ 2 milhões. No Peru o filme teve a segunda maior abertura de todos os tempos e a melhor média de público por cópia. Além disso, foi a melhor bilheteria de estréia para uma produção local na história do país. Portanto, qualquer discurso social em contrário é balela de empresário.
Embora venha com essa cara panfletária de manifesto sócio-cultural, o filme muito pouco tem de verdadeiramente latino-americano. Tudo acontece em condomínios hermeticamente fechados. Não há qualquer relação de diálogo com o povo e as ruas dessas pobres metrópoles. Ritmos caribenhos, esqueça. A Mulher do meu Irmão mergulha nas profundezas frias e cítricas de uma trilha sonora que, quando não irrita, nada acrescenta.
Esta película blindada predominantemente mexicana, baseada no best seller do escritor peruano Jaime Bayly, conta a história de Zoe, uma mulher classe A que, após 10 anos de casamento com um estereótipo de executivo atarefado, sente-se entediada com a vida que carece de paixão e surpresas. Como o título sugere, Zoe deixa-se seduzir pelo cunhado e, a partir desta situação, desencadeia-se uma série de situações que culminam num óbvio triângulo amoroso familiar.
Com interpretações pífias e nada polifônicas, construídas em cenas tipicamente clichês, o filme não empolga nem por um caracoles. Nem precisa mencionar que a dúvida cruel de Zoe é optar pelo bem-estar econômico, porém frígido, ou cair nas mãos de um artista caliente e desencanado.
Castelhano mesmo, só restaram os sobrenomes dos atores e autores. O filme abre mão das particularidades e busca em tom globalizado aproximar-se das convenções e paradigmas folhetinescos das telenovelas. O resultado, chapado em tom quase sépia e sem vida, é conseqüência dessa busca pela universalidade que se apóia nas crises existenciais comuns aos habitantes de qualquer parte do planeta. A Mulher do meu Irmão é séptico demais pra se autodefinir como um caldo cultural que transborda sensualidade. Falta suingue, falta morenice nessa retalhada colcha guacamole demais pra nascer na terra dos sombreros.
Érico Fuks é editor do site Cinequanon