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Além das animações - que sempre trazem algum elemento capaz de agradar aos adultos -, são poucos os filmes infantis que conseguem cruzar a fronteira e alcançar pessoas fora de seu público-alvo. Geralmente avesso a filmes para crianças, confesso que tive uma agradável experiência em A menina e o porquinho (Charlotte´s Web), longa dirigido por Gary Winick (De repente 30) que adapta o livro A teia de Charlotte, de E.B. White.
Alguns elementos parecidíssimos com essa história já apareceram antes no cinema, nos dois filmes de Babe, o porquinho atrapalhado (sabe como é... suíno falante, tentando escapar do matadouro com a ajuda dos amigos da fazenda...). Mas as adaptações de George Miller, apesar de igualmente cativantes, têm desdobramentos menos emotivos. Daí a chance de contar, sem parecer uma repetição do tema, a simpática aventura do leitão Wilbur, que nasceu pequeno demais, seria sacrificado, mas encontrou no amor da pequena Fern uma segunda chance de ver o mundo.
Nos papéis principais, como a menina Fern e a voz da aranha Charlotte, estão respectivamente Dakota Fanning (Guerra dos Mundos) e Julia Roberts (Doze homens e outro segredo) - mas essa segunda só mesmo quando sair o DVD, já que só existem cópias dubladas nos cinemas brasileiros. Todavia, apesar dos maiores perderem as vozes de gente como Oprah Winfrey (a Gansa), John Cleese (Samuel o carneiro), Kathy Bates (uma vaca), Robert Redford (o cavalo) e o trio sensacional formado por Steve Buscemi (o rato), Thomas Haden Church e Andre 3000 (dois corvos), fica o alívio da distribuidora ter se concentrado em promover o filme e não celebridades televisivas, como é comum por aqui. Ao optar por dubladores profissionais, talentosos, e deixar de lado a profusão de celebridades chinfrins e seus sotaques exagerados, a Paramount Pictures - mais nova empresa a atuar nos cinemas brasileiros - começa muito, muito bem (é Ano Novo, esqueçamos o passado de Heloísa Perissé em Madagascar e outras bobagens da UIP, identidade da empresa até dezembro de 2006).
De volta ao filme, a computação gráfica e manipulações digitais que fazem os bichos da fazenda falarem já havia sido empregada com sucesso por Miller há uma década e aqui também funciona muito bem. Assim, é no romantismo das lições de sacrifício e aceitação que a obra de White - adaptada por Susannah Grant (Erin Brockovich) e Karey Kirkpatrick (Guia do mochileiro das galáxias) - se destaca.
Wilbur é tão inocente quanto Babe, mas Charlotte, sua aranha companheira, rouba a cena e dá ao filme bom estofo emocional. Aliás, o design da aracnídea é um caso à parte. O desenhista de produção Stuart Wurtzel (Angels in America) não escondeu os traços grotescos da espécie na personagem, mas ela resulta bela como poucas quando a história de White nos ensina a enxergarmos tal criatura com olhos de Wilbur. E esse olhar porcino se aplica também aos marmanjos no cinema, que podem tentar superar preconceitos e desfrutar ao lado dos pequenos (sem eles também não dá... não é pra tanto) essa bela história.