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A História da Eternidade | Crítica

Um sertão sensível, onde a seca não é o foco

26.02.2015, às 13H59.

A primeira cena de A História da Eternidade remete a Vida Secas: a câmera parada observa a vida passar lentamente por um vilarejo no Nordeste. Mas ao contrário deste e de outros filmes sobre o sertão, o longa de Camilo Cavalcante não foca no sofrimento causado pela seca.

A História da Eternidade mostra a vida simplória de um vilarejo com não mais que 40 pessoas, onde se compartilha o arroz, feijão e carne de panela e onde nada muda. Mesmo com o imenso vazio do sertão, lá não cabem sonhos. Nesse contexto, o longa explora os desejos, as aflições e as necessidades de três mulheres.

Afonsina (Débora Ingrid) tem 15 anos e sonha em ver o mar. João (Irandhir Santos), tio de Afonsina, tenta viver de arte. Ele é único que traz alegria para ela. O tio leva o mar até ela com poesias e histórias bonitas. A estreante, Ingrid, e o já premiado Irandhir Santos formam uma dupla de química irrepreensível. 

Querência (Marcelia Cartaxo) é uma mulher que sofreu uma grande perda e não tem mais alegria de viver. Apaixonado por ela, um sanfoneiro se senta todo dia em frente sua casa e, tocando seu instrumento, espera ela sair à janela para dar bom dia, aguardando o dia que em ela abrirá a porta e o convidará a entrar.

O terceiro núcleo do longa gira em torno de Dona Das Dores (Zezita Matos). A senhora rezadeira cuida de todos da cidade, mas vive sozinha, longe da família que migrou para São Paulo. Sua realização se dá quando seu neto volta para passar uma temporada no vilarejo. A história de Das Dores é a que se torna mais inquietante. Ao contrário de Afonsina e Querência, a rezadeira se desenvolve de forma diferente, mais complexa.

Separado em três atos, o longa passa pela calma, depois a quebra do equilíbrio, a tormenta e o retorno à estabilidade. Camilo Cavalcante faz com que o longa acompanhe o ritmo sertanejo dos bom dias e boas tardes, do toque do único telefone da vila, das refeições, e dos valores patriarcais.

Existe uma delicadeza no jeito em que Afonsina serve a comida ao seu pai quando ele chega em casa, na fala do tio, na sanfona do cego apaixonado. Essa preenche a dramaturgia mínima de A História da Eternidade, ao som das últimas melodias compostas por Dominguinhos.

A História da Eternidade | Cinemas e horários

 

Nota do Crítico
Bom