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Filmes
Crítica

A Esposa

Glenn Close supera roteiro cheio de clichês com atuação memorável

NB
11.01.2019, às 17H25.
Atualizada em 11.01.2019, ÀS 17H48

Créditos da imagem: Reprodução

Há muitos elementos e inúmeros profissionais envolvidos na realização de um filme. Muitas vezes, porém, cabe a poucos salvar uma produção - seja do desastre, seja do esquecimento. É o caso de A Esposa, que depende completamente da atuação de Glenn Close para se tornar memorável.

Jane Anderson assina o roteiro baseado no livro de Meg Wolitzer sobre Joan Castleman (Close), escritora que emprestou seus talentos para o marido, Joe Castleman (Jonathan Pryce), e começa a repensar esse acordo ao vê-lo receber o prêmio Nobel de Literatura. É uma história sobre ressentimento que o diretor Björn Runge capta com precisão ao centrar todos os seus esforços em Close. Sem dizer quase nada, a atriz dá à personagem camadas ausentes no restante da narrativa.  

Transitando entre passado e presente, o roteiro sustenta a trama em torno de clichês que seriam incontornáveis. O escritor e seu ofício são tratados por meio de estereótipos que não cabem em um longa que justifica a parceria entre os Castleman justamente pela capacidade de Joan em criar personagens únicos e tridimensionais. Close supera essa deficiência, mas outros não têm o mesmo espaço. Sempre competente, Pryce se vê preso no arquétipo do medíocre em negação, sem estabelecer um verdadeiro contraponto à mágoa da esposa.

Essa relação é agravada pelos flashbacks, convincentes para estabelecer o romance entre os dois (muito pela química entre Annie Starke e Harry Lloyd, as versões jovens de Joan e Joe), mas incapazes de adicionar consistência ao presente. Como Joe se torna um velho bobo e pretensioso, a devoção de Joan não se sustenta, assim como o acordo entre os dois. Ela aceitou ficar às sombras “porque um escritor precisa escrever” e acreditava que jamais seria reconhecida ou teria oportunidades na profissão por ser uma mulher. Se no passado isso se justifica como uma parceria entre o casal, a situação do presente deixa uma lacuna: em que momento ela aceitou se anular completamente? Quando ele justificou para si mesmo que merecia colher sozinho todo o reconhecimento sem sentir qualquer traço de culpa?

Os personagens secundários escancaram a fragilidade da história ao ter funções específicas para que a narrativa se desenvolva. David Castleman (Max Irons), o filho do casal, existe somente para que eventualmente Joan seja questionada e abandone a sua postura resignada. O mesmo vale para Nathaniel Bone (Christian Slater), o biógrafo que surge para plantar a semente da discórdia sempre que a passividade de Joan ameaça deixar tudo como sempre esteve.

O que Close faz entre tantas ressalvas é levar para o público a aflição da sua personagem. No seu olhar está a dor de um segredo, a angústia da injustiça e os sacrifícios e as incoerências de quem ama profundamente. A Esposa se torna então produto direto do talento da atriz. O que, no fim das contas, não deixa de ser um feito também da direção, que soube aonde olhar para transformar ordinário em notável na sua representação do desgosto.

Nota do Crítico

Bom
Natália Bridi

A Esposa

The Wife

2017
100 min
País: Reino Unido, Suécia, Estados Unidos
Direção: Björn Runge
Roteiro: Jane Anderson
Elenco: Glenn Close, Christian Slater, Jonathan Pryce