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Crítica

A Escola do Bem e do Mal insiste em deslizes das adaptações literárias

Filme de Paul Feig investe nos efeitos para se diferenciar de Harry Potter

19.10.2022, às 15H21.
Atualizada em 19.10.2022, ÀS 17H02

Enquanto o valor de mercado de Harry Potter deprecia na esteira da controversa presença de J.K. Rowling nas redes sociais, os eternos candidatos a fenômeno de literatura infantojuvenil de fantasia continuam migrando para as telas. A Escola do Bem e do Mal adapta em longa-metragem a popular série de livros homônima de Soman Chainani, e chega ao catálogo da Netflix com a expectativa de uma franquia que talvez consiga sair da sombra de Potter e sustentar a si mesma no imaginário popular.

Apostando em um espetáculo de estímulos visuais para ocultar a influência de Rowling, o diretor e corroteirista Paul Feig se esforça para trazer em cada sequência pequenas surpresas para cativar o público, ao longo de 2 horas e meia de muito (realmente muito!) CGI. O que poderia ser apenas uma simpática fábula ao som da sempre brilhante Billie Eilish se converte em um dilúvio de pirotecnia e pastiche. O saldo é uma bagunça com algum tom de Art Nouveau.

O elenco de coadjuvantes escala estrelas em posições-chave, como Charlize Theron e Laurence Fishburne, para dar espaço à encantadora Sophia Anne Caruso, atriz infelizmente desperdiçada em uma personagem inconsistente. Caruso vive a protagonista Sophie, que, ao lado de sua melhor amiga Agatha (Sofia Wylie), escapa de seu cotidiano de bullying, poeira e variações de bege para o mundo de fantasia e cores pastéis dos seus sonhos.

Um ingênuo desejo de Sophie parece se realizar quando ela é magicamente transportada para a Escola do Bem e do Mal, lar de todos os grandes contos de fadas onde qualquer semelhança com Hogwarts é mera coincidência. Agatha, a contragosto, não se permite ficar para trás, preocupada que a amiga não saiba onde está se metendo. Para o espanto de ambas (e não do público), Sophie - que sempre se vira como a princesa da história - é deixada na Escola do Mal, enquanto Agatha - caracterizada por seu visual circunspecto e acusações de bruxaria - se vê recebida pela Escola do Bem.

Certa de que um terrível engano tinha acontecido, e aflita para voltar para casa, Agatha se engaja a ajudar Sophie a provar seu caráter e conquistar seu final feliz com um beijo de amor verdadeiro. Rapidamente, pistas começam a sugerir que o equilíbrio entre o Bem e o Mal preservado pela instituição não é tão simples quanto parece e está sob grave ameaça de uma figura não-tão-misteriosa (Kit Young) que seduz Sophie com promessas de vaidade e poder.

Erguida sobre alguns dos mais tradicionais lugares-comuns das produções do gênero (os protagonistas deslocados de seus entornos ou as ambições da popularidade e da aceitação de seus pares), a trama pretende brincar com os estereótipos do "bem" e do "mal" dos contos de fada na forma dos esforços repetitivos e excessivamente didáticos de Agatha para que seus colegas compreendam as inseguranças e vulnerabilidades que os tornam iguais apesar de suas diferenças.

A amizade feminina, fio condutor que poderia garantir a singularidade da produção, é deixada em segundo plano na trama que gira em torno da ideia de que o que faz o herói ou o vilão são suas escolhas e ações - uma lição apenas não menos original do que a certeza, que atravessa a trama, de que o bem sempre deve vencer o mal. Uma vez anunciada a intenção de uma sequência, resta torcer para os realizadores limparem a casa e renovarem suas apostas para as oportunidades perdidas neste primeiro filme. 

Nota do Crítico
Regular