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Crítica

7 Dias em Entebbe | Crítica

Em seu novo thriller internacional, José Padilha joga seguro e volta à dinâmica família-ou-trabalho

19.04.2018, às 16H30.
Atualizada em 25.04.2018, ÀS 17H03

José Padilha está em território seguro em seu trabalho mais recente como diretor em Hollywood, o thriller de guerra 7 Dias em Entebbe. O roteiro escrito por Gregory Burke se presta bem à obra do brasileiro: painéis sociopolíticos complexos que Padilha simplifica em narrativas sentimentais, e que conservam um véu de complexidade no caráter discursivo dos seus personagens, sempre envoltos em dinâmicas de conflito ideológico.

Desde que trocou os documentários pela ficção em Tropa de Elite, e partiu para projetos mais ambiciosos que tentam dar conta da pluralidade de perspectivas e de vozes que marcam os debates públicos hoje, Padilha tem replicado essa fórmula com resultados irregulares de maior ou menor eficiência. Entebbe tem a novidade de adicionar a perspectiva histórica à questão sociopolítica; a trama baseada em fatos se passa após a formação do Estado de Israel e enfoca um grupo de guerrilheiros alemães que sequestram um avião entre Tel Aviv e Paris para chamar atenção para a causa palestina.

Colocar-se contra a insanidade do secular conflito pela Terra Prometida é uma escolha ideologicamente simples e esperada, e Padilha a faz com segurança, em cenas que usam dois personagens-chave da política israelense - Shimon Peres e Yitzhak Rabin - para entregar ao espectador o resumo dos dilemas binacionais que estão em jogo. O pacifismo é a grande arma a que Padilha recorre para manter Entebbe numa zona de conforto e evitar que o filme se transforme numa armadilha discursiva de posicionamentos casuístas, como o próprio Tropa de Elite.

A partir do pacifismo, Padilha então retoma em Entebbe outra constante de sua obra ficcional: usar o sentimental para desarmar o "perigo" das ideologias de disrupção. O núcleo familiar tradicional é o grande pilar do status quo social que seus filmes defendem, e aqui não é diferente; dos guerrilheiros alemães aos soldados israelenses, todos estão sacrificando seus afetos em nome da guerra. É como se o molde que fez o Capitão Nascimento de Tropa de Elite 2 (cujo dilema família-ou-trabalho é muito mais claro e simplificado que o do primeiro Tropa) servisse para dar forma a todos os protagonistas implicados em Entebbe.

A questão do sacrifício afetivo talvez até tenha sido o que atraiu Padilha depois a RoboCop, e por fim é assim que transcorre a maioria dos arcos dramáticos de personagem em Entebbe; a montagem cortada entre o balé e a ação no desfecho do sequestro inclusive lembra muito o clímax de Tropa 2, com os dois níveis de ação, o do "big picture" e o da família em risco. A música melancólica de Rodrigo Amarante, que combina bem com o caráter trágico do filme, e a montagem de Daniel Rezende casam com a fotografia barroca de Lula Carvalho para entregar ao espectador uma experiência estetizada - que, no mais, joga mais com a familiaridade e com posicionamentos seguros do que necessariamente com o desafio à reflexão.

Nota do Crítico
Regular