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Crítica

180º | Crítica

Filme nacional se perde nas próprias reviravoltas

15.09.2011, às 18H39.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H27

Você percebe que o Brasil começa a ter uma indústria cinematográfica quando estreiam em semanas consecutivas o ótimo Além da Estrada e este apenas regular 180º (2010). É da crescente (e ainda incipente) produção e de seus testes que vamos conseguir um dia dizer que fazemos cinema por aqui. São erros comuns que, embora não sejam bem-vindos, fazem parte deste aprendizado.

180º

180º

180º

Para começar, 180º é um filme que parece não saber muito bem o que quer ao contar a história de um triângulo amoroso formado pelos jornalistas Russel (Eduardo Moscovis), Anna (Malu Galli) e Bernando (Felipe Abib). O primeiro é um já renomado repórter da área de política. Ela é uma jornalista de economia que larga as redações para abrir uma editora de livros. E o último é um foca (jornalista recém-formado), que está entrando agora nas redações e "vai na cola do casal", como diz o próprio roteiro da jornalista Claudia Mattos, dirigido aqui pelo estreante Eduardo Vaisman.

A trama é contada de forma não linear e gira em torno de um bloco de anotações que Bernardo acha e usa como inspiração para escrever um livro que acaba virando um best-seller. Porém, o dono do bloco fica sabendo de tudo e começa a ameaçar Bernardo, que foge para nova casa de Russel, a fazenda de laranjas que ele herdou após a morte de seu pai.

Anna, que já foi namorada de Russel, agora está com Bernardo, e seu papel vai além do de vértice deste triângulo amoroso. É ela que vai desencadear as reações nos dois, que só vai crescendo, até a última cena. Os estilhaços deste relacionamento é que vão formar o quebra-cabeças que mistura presente e passado dos três, o que seria algo interessante, se não fosse a falta de ritmo, a trilha sonora errada e constantes redundâncias da montagem, que parece não confiar na trama que está contando ou na inteligência dos espectadores - ou em ambos.

Há ainda problemas de desenvolvimento de personagens. Quando Anna e Bernardo chegam à fazenda de Russel, o menino vai dar aquele abraço no seu amigo, já a ex some de cena, voltando depois se desculpando. Por mais que os autores quisessem mostrar o deslocamento da moça naquela cena, o histórico dela com Russel cobra ao menos um "oi, tudo bem?", mesmo que deslocado e falso.

Outra cena que não faz sentido é quando Bernardo, depois de aparecer em duas sequências reforçando que toma café sem açúcar, aparecer adoçando sua bebida. Tomar café é um hábito e jornalista toma muito café, todos sabem, o que só aumenta a automaticidade do ato. Em entrevista ao Omelete, o diretor defendeu a cena, dizendo que o ato impensado de Bernardo é fruto de uma noite mal dormida, depois de deixar sua namorada sozinha com o ex, mas nem com açúcar fica fácil de engolir essa.

Nota do Crítico
Regular