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O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel | Lançado há 15 anos, filme mudou a forma de se fazer blockbusters

Tecnologias inovadoras e boa direção fizeram do longa um marco no cinema

10.12.2016, às 09H00.
Atualizada em 27.05.2020, ÀS 15H30

Como muitos jovens de sua época, Peter Jackson cresceu como um fã do incrível mundo criado por J.R.R. Tolkien em O Senhor dos Anéis. Jamais imaginou, porém, que seria o cineasta responsável por levar esse universo aos cinemas. Mas o impensável tornou-se realidade e neste sábado (10), O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel completa 15 anos.

O trabalho de Jackson começou bem antes de dezembro de 2001, mais precisamente em 1997, quando passou a trabalhar em um roteiro ao lado de sua esposa Fran Walsh. O diretor era um velho conhecido do cinema splatter, com Trash – Náusea Total (1987) e Fome Animal (1992), mas esse desafio era muito maior do que tudo que já havia feito.

Ao longo da história não faltaram projetos para levar O Senhor dos Anéis aos cinemas. Uma animação de A Sociedade do Anel foi lançada em 1978 e Os Beatles queriam estrelar uma adaptação nos anos 60 (que foi vetada por Tolkien), mas o que Jackson pretendia era algo que muitos consideravam impossível: criar a Terra-média de um modo grandioso, que fizesse jus à mitologia de Tolkien.

Inicialmente, o diretor não acreditava que alguém financiaria três filmes tão grandes, então a primeira versão do roteiro era para duas produções e a Miramax foi a primeira interessada no projeto. Com o passar dos dias, no entanto, o medo de fazer duas produções simultâneas aumentou e o estúdio queria toda a história em apenas um longa, algo considerado impossível: “Nessa época, o projeto estava quase liquidado”, afirmou Jackson. Ainda assim, ele procurou outros estúdios e mostrou o começo dos trabalhos de computação gráfica, armaduras e designs da Weta Workshop.

Animação de 1978

“Mostramos o vídeo para Bob Shaye, da New Line e, quando as luzes acenderam ele disse: ‘não são três livros? Você deveria fazer três filmes’. E por um momento você começa a se perguntar o que ele queria dizer com isso. Mas foi dessa forma: passamos de praticamente nenhum filme para três”, explica o diretor. Depois disso, o roteiro foi reescrito, época em que Philippa Boyens, outra grande fã de Tolkien, se uniu ao projeto, e os trabalhos começaram.

A Sociedade do Elenco

Muitos fatores contribuíram para o sucesso de O Senhor dos Anéis, em especial a interação entre o elenco. Diferente de grande parte do público brasileiro, que só conheceu Tolkien após as adaptações aos cinemas, muitos dos atores já conheciam a história desde pequenos e chegaram ao set com muita vontade de fazer o projeto dar certo.

Como poucos se conheciam, Peter Jackson começou o trabalho com o elenco meses antes, deixando, por exemplo, o quarteto de hobbits formado por Elijah Wood (Frodo), Sean Astin (Sam), Billy Boyd (Pippin) e Dominic Monaghan (Merry) em um laboratório de dois meses. A ideia era levar todo o conceito de amizade apresentado por Tolkien de uma forma real para as telas. O mesmo aconteceu  com outras partes do elenco, como Orlando Bloom (Legolas), Viggo Mortensen (Aragorn) e Gimli (John Rhys-Davies), que passaram muito tempo juntos por conta da trama de seus personagens.  

Ao todo, as filmagens e refilmagens da trilogia duraram dois anos, de 1999 até 2001, na Nova Zelândia. Com isso, todos que trabalharam nos filmes precisaram abrir mão desse período de suas vidas, deixando família e amigos, para se dedicar ao projeto, e isso espelha a jornada dos personagens em tela: “Às vezes tínhamos de escalar montanhas repetidas vezes e caminhar pelo campo sob clima adverso e levantar bem cedo. E, se você tem 61 anos, você se pergunta: ‘É assim que quero ocupar meu tempo?’ E a resposta é ‘sim’, porque o projeto vale a pena”, disse Ian McKellen.

Elenco reunido

Weta Workshop

É impossível falar de O Senhor dos Anéis e não citar o trabalho da Weta Workshop, fundada por Richard Taylor em 1987. A empresa já tinha trabalhado em séries com a temática medieval, como Hércules e Xena, mas ficou conhecida realmente após O Senhor dos Anéis.

Taylor explicou na época que uma dos primeiros passos da produção foi contratar especialistas em armas e armaduras. Ao ver os vídeos de bastidores do primeiro filme, é possível entender a dedicação de toda essa equipe em criar itens reais não somente para os protagonistas que aparecem mais perto da câmera, mas também para todos os coadjuvantes: “Adotamos a seguinte filosofia quanto às armas: em momento nenhum nossas criações pareceriam fantasiosas. Este não é um filme ao estilo Conan, o Bárbaro. É preciso sentir que a Terra-média é real, que essas peças são úteis”, afirmou Taylor.

A parte digital também impressionou na produção, com o desenvolvimento de vários softwares, como o MASSIVE, que permite a criação de vários personagens digitais, que agem de forma independente e permitem batalhas em grandes escalas, como vemos em parte em A Sociedade do Anel e de forma mais clara em As Duas Torres e O Retorno do Rei.

Richard Taylor no set

Prêmios e o público

Tanta dedicação fez de O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel, mais do que um blockbuster. A produção recebeu diversas indicações ao Oscar de 2002, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante para Ian McKellen, entre várias outras, e ganhou os prêmios de Melhor Fotografia, Melhor Maquiagem, Melhor Trilha Sonora e Melhores Efeitos Visuais.

Mas, além de tudo isso, o filme ganhou também o coração de diversos fãs, principalmente pela sensibilidade mostrada em tela. Miranda Otto, que entrou para a franquia apenas no segundo filme no papel de Éowyn, resumiu bem esse sentimento: “Acho que vivemos em uma época muito cínica, e esse longa não tem nada de cínico. É uma história onde amor, amizade e lealdade são as coisas mais importantes”.

Muitos criticam o mundo de Tolkien por essa “fantasia” de sentimentos tão perfeitos e personagens tão honrados, mas talvez seja exatamente isso que conquistou tantas pessoas: sabemos que a lealdade mostrada em O Senhor dos Anéis pode ser idealizada, que as pessoas no mundo real são mais egoístas e pensam apenas em seu próprio bem (algo que vemos muito em Game of Thrones), mas ver esses personagens nos faz ter esperança que possamos, um dia, sermos tão amigos quanto Sam, tão corajosos quanto Aragorn e Frodo, tão apaixonados quanto Arwen e tão dedicados quanto Gandalf.

*Artigo publicado origianalmente em 10 de dezembro de 2016