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Canibal alemão impede exibição de filme que ficcionaliza seu caso

Canibal alemão impede exibição de filme que ficcionaliza seu caso

09.03.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H03

Na metade de janeiro o alemão Armin Meiwes, condenado a oito anos e meio de prisão por canibalismo, ameaçou processar os realizadores de Butterfly, a Grimm love story, filme de horror independente que será estrelado por Keri Russell (Felicity). Dizia que a obra de ficção se baseava sem permissões em seu caso real, poderia estigmatizá-lo nas telas e prejudicar suas apelações no tribunal. Ameaçou, processou, e nos últimos dias Meiwes ganhou o primeiro round.

Butterfly, dirigido por Martin Weisz, tinha seu lançamento na Alemanha marcado para hoje, 9 de março. Nele, Keri vive uma estudante estadunidense que parte para a Alemanha para pesquisar a vida de um canibal (Thomas Kretschmann) para sua tese de graduação. No entanto, ela fica obcecada com o criminoso e começa a mergulhar num estilo de vida diferente e alienado. É na internet que o canibal vivido por Kretschmann faz suas buscas. Foi na rede real que Meiwes encontrou o homem que viria a ser sua vítima.

Na sexta-feira, uma corte decidiu que o filme se mira em demasia no caso de Armin Meiwes e infringe injustificadamente os direitos pessoais do canibal. Nem é preciso ir longe para provar a relação: o título de trabalho do filme na Alemanha, Rohtenburg, faz referência à cidade natal de Meiwes. A exibição do filme foi suspensa.

A distribuidora berlinense Senator Film, que detém os direitos da película, condenou a decisão, dizendo que ela teria consequências devastadoras para a indústria dos filmes e para a arte dos filmes. Isso [a decisão] é totalmente incompreensível, e em nossa opinião inconsistente com a Constituição, que um trabalho artístico lidando com pessoas da história contemporânea agora dependerá da aprovação delas e de sua cobiça por lucros. Balela, claro. Todo direito de imagem e propriedade é negociada antes da produção de uma cinebiografia. É o a-bê-cê da indústria - que a produtora do filme, a Atlantic Streamline de Los Angeles, ignorou gatunamente.

Originalmente, o canibal recebeu a pena de oito anos e meio em 2004 - mas a decisão passa pela atual revisão, que permite a contra-ofensiva do acusado, porque a Suprema Corte julgou que a condenação primeira fora leniente demais. Meiwes admitiu ter matado Bernd-Juergen Brandes e comido pelo menos vinte quilos da carne do falecido, mas sua defesa alega consentimento. Um vídeo que o assassino fez no momento do crime mostra que Brandes autorizou-o. E na lei alemã essa espécie de homicídio consentido dá, no máximo, cinco anos de prisão.

O advogado de Meiwes, Harald Ermel, diz que o processo não tem motivações financeiras, mas visa apenas preservar a verdade. O final [do filme] é totalmente equivocado. A vítima é apunhalada uma dúzia de vezes. Na realidade, foi uma vez só, defende, dizendo que o filme transformou seu cliente em um assassino bestial. A idéia agora é impedir a distribuição internacional. Paralelamente, Meiwes diz que negociou as licenças de adaptação de sua história com a companhia de documentários Stamfwerk por ver que, assim, poderia apresentar seu lado da questão.

A Atlantic Streamline tenta recorrer da decisão.