Filmes

Entrevista

Bizarros Peixes das Fossas Abissais | Animação com Guilherme Briggs ganha primeiras imagens

Natália Lage também está no elenco de voz

24.04.2017, às 21H53.
Atualizada em 24.04.2017, ÀS 23H01

Estranheza é a primeira palavra que o título Bizarros Peixes das Fossas Abissais evoca: é este o nome de um mais esperados longas-metragens de animação do Brasil, hoje em produção, já com as vozes gravadas da atriz Natália Lage e do dublador Guilherme Briggs. Mais estranho ainda era o título original deste projeto que arranca gargalhadas de quem leu seu roteiro: Minha Bunda é Um Gorila!. Embora tenha sido abortado, esta alcunha inicial é a que melhor qualifica a protagonista: uma super-heroína cujo bumbum vira um macaco. A expectativa em torno desta trama se deve ao fato de ela marcar a estreia em longas de um dos mais premiados cineastas brasileiros: Marão, realizador de curtas-metragens aclamados como Até a China (2015) e Eu Queria Ser Um Monstro (2010). Nascido em Nilópolis, no Rio, há 45 anos, ele dirigiu, de 1996 para cá, 13 curtas, que participaram de 576 festivais no Brasil e no mundo, tendo recebido 120 prêmios. Marão disponibilizou para o Omelete uma seleção exclusiva de imagens do filme:

Na entrevista a seguir, ele dá detalhes sobre sua protagonista:

Omelete: Que heroína é esta a deste longa e de que maneira ele desconstrói as narrativas clássicas de super-herói?

Marão: Ela pronuncia a frase “Minha Bunda é Um Gorila!” e sua área glútea se metamorfoseia em um poderoso, feroz e imenso primata de meia tonelada. Com este super poder e a ajuda de uma tartaruga e uma nuvem, ela tem a missão de encontrar cacos de um vaso que formarão um mapa. Os personagens se envolvem em situações bizarras, mas movidos por razões emocionais verdadeiras.

Omelete: Qual é o maior desafio de se fazer um primeiro longa-metragem no terreno da animação no contexto industrial do cinema brasileiro de hoje?

Marão: Em cem anos de filmes de animação no Brasil, pouco mais de 40 longas animados foram realizados. Atualmente, há 25 em produção, um fato inédito em toda nossa história. Pela primeira vez, diretores conseguem realizar mais de um longa de animação na vida. O maior desafio - na minha opinião - é sustentar uma narrativa de mais de uma hora de duração, pela nossa experiência de, tradicionalmente, contar histórias breves (em curtas metragens ou, mais recentemente, em episódios de séries de TV). A melhor faceta de se trabalhar com o mesmo personagem durante anos é poder desenvolver a personalidade e relações entre os personagens com uma construção no acting da animação de modo muito mais profundo. E o mais difícil é lidar com um arco de história de mais de setenta minutos que mantenha a atenção do público.

Omelete: Quanto tempo leva pra se animar um minuto de um longa?

Marão: Estou animando de forma tradicional, a lápis no papel. Para cada minuto de animação, levo aproximadamente um mês na mesa de luz, fazendo quase mil desenhos individuais por mês. 

Omelete: Qual é o tamanho da sua equipe?

Marão: Estamos no início da produção, com uma equipe ainda pequena, de menos de vinte pessoas (incluindo nessa listagem o seguinte: direção/produção/animação/montagem/som/digitalização/pintura/cenários/vozes). Mas a equipe total vai triplicar esse número. Letícia Friedrich é a produtora executiva do filme e o longa existe graças à competência de produção dela, que está envolvida no projeto desde o início de tudo, desde quando só existia a idéia. A parceria profissional com a Letícia na produção executiva tem sido fundamental para todos os projetos da Marão Filmes dos últimos anos. Eu e a animadora Rosaria estamos dividindo a animação dos primeiros dez minutos do filme, mas outras quatro ou cinco pessoas integrarão gradualmente a trupe dos animadores a partir dos próximos meses. Resolvi animar os primeiros dez minutos apenas com a Rosaria para estabelecer a logística e sistemática (também inédita na minha vida profissional) de animação/direção/design/atuação com alguém com quem já trabalho há dez anos e que me conhece bem, porque - embora seja um longa - este é um projeto bastante autoral e pessoal, com muitas cenas realizadas de uma forma mais próxima da experimentação de um curta do que de uma produção comercial ou publicitária.

OMELETE: Qual seu orçamento?

MARÃO: Recebemos R$ 115 mil da SEC-RJ para o desenvolvimento do projeto (roteiro, storyboard, cronograma, plano de negócios e de distribuição, etc) em 2012, o que foi importantíssimo e viabilizou a produção do extenso material necessário que um longa de animação necessita para iniciar sua captação. Com este projeto montado, fomos selecionados no  edital do BNDES de 2015 (que é um dos principais e mais assíduos apoiadores da animação brasileira atualmente, tendo lançado inclusive um inédito e essencial edital de curtas), e acabamos de ser selecionados também no PRODECINE 5/2015, o edital de longas com perfil de Inovação de Linguagem do FSA. O aporte de um milhão e meio do BNDES mais o aporte de 760 mil do FSA totalizam o orçamento do longa.