Sabe aquela piada de Seinfeld em que o Jerry leva uma bronca da mãe porque ficou de pegação com a namorada no cinema durante uma sessão de A Lista de Schindler? Então, em Acne (2007) acontece coisa parecida. A diferença é que, no seriado, adultos agem como moleques e, no filme uruguaio, moleques são chamados a agir como adultos.
acne
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Ainda que tenha 13 anos, Rafael Bregman (Alejandro Tocar) já pode ser considerado um jovem adulto, uma vez que passou pelo Bar Mitzvah e, segundo a lei judaica, tornou-se responsável pelos seus próprios atos. Acontece que quando se tem 13 anos, e em Montevidéu, a tradição parece uma coisa distante - literalmente, já que todos estão tentando convencer Rafa a seguir o exemplo dos amigos e partir para um curso em Israel.
Rafael tem outras coisas na cabeça. Ou melhor, na cara, como já indica o nome do filme. As espinhas são um problema, ainda mais para quem não vê a hora de dar seu primeiro beijo na boca. Rafael fuma, aposta na loteria, joga cartas, até já perdeu a virgindade, mas ainda não beijou ninguém. Então tome creme e pomada pra controlar essas malditas glândulas sebáceas.
Neste seu longa de estréia, o diretor uruguaio Federico Veiroj (que já havia contado a história do Bar Mitzvah de Rafael no curta Bregman, el Siguiente, de 2004) narra com leveza e humor essa história amplificada das pressões que caem nas costas dos adolescentes. Amplificada porque Acne trata de um microcosmo particular, as família judias de classe alta da capital: às pressões do dia-a-dia adicione-se a carga da tradição.
A forma como Veiroj enquadra o carismático Alejandro Tocar ilustra muito bem essa pressão. Rafael frequentemente fica nos cantos dos quadros (nas cenas da barraca de rua, na escada ao lado da aula de karatê, na fila da prostituta), como se fosse um intruso no mundo, esperando sua vez de entrar. Estão todos chamando Rafa a "participar" - os pais o colocam em aula de tênis, de piano, na escola passam documentários sobre o Holocausto - mas a camisa comprida ainda está grande demais para ele.
Aos 13 anos o que importa na verdade são as pequenas conquistas. E conquistas essas que são acima de tudo uma coisa particular, solitária, como o sincero Acne sabe bem mostrar - e tem a bondade de dividir conosco.