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"A função do artista é investigar a gênese da emoção", diz a cineasta Agnès Varda

Belga está em cartaz no Brasil com Visages, Villages, que disputa o Oscar de melhor documentário

01.02.2018, às 19H19.

Cerca de dois meses após ter conquistado um Oscar honorário por sua carreira, a cineasta belga Agnès Varda volta ao páreo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, aos 90 anos, com a indicação de Visages, Villages ao prêmio de melhor documentário. Lançada na quinta-feira (1) no Brasil, a produção conquistou o troféu L’Oleil d’Or (a Palma de Ouro da estética documental) no Festival de Cannes de 2017. Sua narrativa registra a consolidação de uma amizade entre dois artistas que registram a paisagem humana da França rural.

"A função do artista é investigar a surpresa, a gênese da emoção, a necessidade da criação como ferramenta de denúncia e de transcendência", disse Agnès ao Omelete no Festival de San Sebastián, na Espanha, onde ela foi homenageada pelo conjunto de sua obra. "Eu não faço ideia das razões tempestuosas que alimentaram os protestos brasileiros contra a conjuntura política atual de vocês, mas sei que há uma tradição no Brasil, desde 1968, de se combater o totalitarismo com a arte, com o engajamento dos jovens".

Em Visages, Villages, Agnès realiza uma viagem no caminhão fotográfico de JR, discutindo o espaço de fruição da arte.

"Eu vivi tempos tempestuosos, no qual a gente saía às ruas para protestar não por um pleito individual, mas pela transformação do mundo. Estou velha hoje, mas lido com a velhice com leveza, pois ela é matéria de criação. Faço filmes a partir do que vivo e vivo como mulher. Meus filmes são femininos e aportam à realidade a percepção de que as mudanças são graduais e que dependem da integração de todos", disse Agnès. "O mais bonito de se fazer um documentário é buscar o que há de poético na vida, sendo atento ao que o Real nos apresenta".