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Filmes
Entrevista

"A Comédia Divina é um filme crítico à essa moralidade hipócrita da sociedade", diz diretor

Conversamos com Toni Venturi no Festival do Rio

RF
06.10.2017, às 12H17.
Atualizada em 06.10.2017, ÀS 13H08

Forças satânicas com um pezinho na prosa de Machado de Assis fizeram a promessa de levar o Festival do Rio 2017 às gargalhadas num pacto com o riso que será assinado no dia 11, às 19h15, no Estação NET Botafogo 1, durante a projeção de uma das produções brasileiras mais esperadas do ano: A Comédia Divina, de Toni Venturi.

Com base no conto A Igreja do Diabo, do Bruxo do Cosme Velho, o filme marca a entrada do aclamado documentarista paulista (de O Velho), conhecido ainda por dramas como Cabra Cega (2004), no humor. Murilo Rosa vive o Diabo, que, com o prestígio em queda, resolve fundar uma seita a fim de angariar fiéis. Uma jornalista (Mônica Iozzi) será sua interlocutora no processo com seu novo rebanho. Isso se Deus (Zezé Motta) deixar. Na entrevista a seguir, Venturi fala sobre a afinação do filmes com as crises simbólicas do Contemporâneo.

Omelete: Qual é o maior desafio de se representar o Diabo nestes tempos de moral exacerbada e patrulhas diversas?

Toni Venturi: O filme faz releituras dos clichês do imaginário popular. E, um dos estereótipos mais saborosos, é o do Diabo charmoso, libidinoso, garboso, invejoso, irado, enfim, o Murilo Rosa encarna os sete pecados capitais, que é a base do argumento que o José Roberto Torero trouxe para mim lá atrás, na gênese do projeto. Interessante é ver que os filmes atravessam o tempo e que não controlamos nada. Quando roteirizamos o projeto... a onda conservadora estava submersa. Hoje vejo um filme crítico a essa moralidade hipócrita que está patrulhando a sociedade depois que abriram a caixa de pandora e soltaram todos esses diabos que tomaram o poder. 

Omelete: Como foi o desafio de encarar a cartilha da comédia depois de anos de chão entre o drama realista e o documentário?

Toni Venturi: Foi um grande desafio. Fiz a lição de casa, com humildade. Fui estudar, ler e ver filmes, de Chaplin- o melhor da comédia física, conhecida como pastelão - às comédias mordazes da primeira fase dos irmãos Coen, que eu curto muito. Confesso, ainda com muita humildade, que fazer comédia é algo muito sério.

Omelete: Qual é a ideia de Divindade nesse filme e qual é o simbolismo de ter um mito como Zezé Motta – uma das maiores atrizes negras do país - como Deus?

Toni Venturi: É um filme sobre religião feito por um bando de ateus (os roteiristas), mas todos respeitosos ao Sagrado. O ponto de partida é o Deus cristão, aquele que está na base de todas as religiões mais conhecidas: católicos, judeus, muçulmanos etc. Então, estamos falando de um Deus que é onipotente, onipresente e onisciente. Se ele é tudo isso, então já sabe tudo, né? Tanto do passado, como do futuro. Por isso, nosso Deus sofre de tédio celestial, é imensamente benevolente e louco para jogar alguma coisinha para fazer o tempo passar. O fato de ser mulher e negra é porque acredito na força revolucionária do feminino e quis homenagear os africanos e afrodescendentes brasileiros, um dos pilares da nossa sociedade. Quem me sugeriu a Zezé foi o Cacá Diegues. 

Omelete: O que esse filme te ensinou sobre a saúde moral do Brasil? 

Toni Venturi: Que andamos muito mal de saúde, desde a mais básica até intelectual. Estamos passando por uma purgação que vai se alongar por muito tempo. Vai se alongar até que esta geração de velhos sórdidos carcomidos seja despachada para o inferno e uma nova geração de pessoas mais antenadas com a compaixão tome as rédeas e consiga salvar o planeta e o ser humano de sua autodestruição. Nós não estaremos mais aqui para ver, mas estamos fazendo a nossa parte, né? Filmes que tragam um pouco de alívio (diversão) com reflexão. E viva Machado de Assis, o gênio realista da literatura brasileira!

A Comédia Divina terá sessões ainda no dia 12, às 21h30, no Reserva Cultural Niterói 2, no dia 14, às 16h15, no Roxy 2.