No dia 16 de março de 2007 o Omelete teve a chance de participar de um evento um tanto surrealista... fomos convidados a entrar no Second Life, a comunidade virtual que mistura game e site de relacionamentos (leia mais a respeito na revista Omelete), para uma entrevista coletiva com o elenco de 300.
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A ocasião pedia trajes especiais, então criamos um Avatar - a representação digital dos internautas dentro daquele mundo - tipicamente espartano: alto e forte, com longa barba e cabelos rebeldes, vestindo apenas sandália e cueca de couro. Ah, e uma lança atravessada bem no meio do peito.
Para o evento foi criada uma edificação 3-D elaborada, completa com salas de leitura e videoteca, decoração do filme, uma réplica de Esparta e um anfiteatro com telão, onde a conferência de imprensa aconteceu. O local está aberto a visitas no momento e pode ser acessado dentro do Second Life a partir deste link.
Foram trinta jornalistas do mundo todo (apenas o Omelete do Brasil), sendo o Avatar omelético o mais "ousado", ao lado de uma moça alada que também optou por um visual exótico para o evento.
A coletiva começou normal, como tantas outras, mas logo os presentes, usando avatares correspondentes à realidade, foram se soltando. O resultado parece até uma faixa comentada de DVD, com Zack Snyder (diretor), Frank Miller (autor, por telefone), Gerard Butler (Leônidas), Rodrigo Santoro (Xerxes) e Lena Headey (Gorgo) constantemente gargalhando e fazendo piadas um com a cara do outro.
Confira abaixo o papo (alguns trechos já publicados aqui no site foram eliminados) e clique aqui para ouvir em MP3 (30mb):
Omelete entrevista: Elenco e equipe de 300 no Second Life
Zack, a Internet parece ter sido decisiva para o sucesso de 300. O que você pensa a respeito?
ZACK SNYDER: 300 foi realmente abraçado pela comunidade da Internet e transformado em um filme deles. De várias maneiras foram eles que venderam o filme ao mundo. Curioso é que isso já havia sido uma promessa em vários filmes, como Serpentes à bordo, mas é a primeira vez que o resultado realmente acontece nas bilheterias.
Frank, esta é claramente uma adaptação muito fiel e que reverencia sua obra. Você está satisfeito com o resultado? Este é o filme que você imaginava?
FRANK MILLER: Sim e não. "Sim" porque estou absolutamente extasiado com o resultado. E "não" porque eu nunca imaginei um filme de 300, isso é coisa do Zack. Ele pegou meu livro e o levou a lugares inesperados, amplificando-o e tornando-o mais poderoso do que qualquer coisa que eu poderia imaginar. Ele me mandou o roteiro mas meus palpites foram ínfimos. O filme é dele. E tem uns momentos sensacionais. A minha frase preferida, quando Delios diz "lutaremos à sombra", é repetida mais tarde num momento engraçadíssimo. Adorei. A diferença entre Sin City e este foi que no primeiro eu trabalhei feito um camelo. aqui, simplesmente coloquei minha mão debaixo da árvore de Natal e tirei um presente inacreditável - o filme de Zack.
Zack fale um pouco sobre como você foi envolvido no projeto.
ZACK SNYDER: Eu fui envolvido no projeto quando estava no escritório de Gianni Nunnari [produtor] e vi uma cópia de 300 na mesa dele. Estávamos conversando sobre filme em geral e ele me mostrou alguns roteiros que pareciam legais, mas eram apenas... filmes. Aí eu disse pra ele apontando a HQ "sabe? essa seria uma tremenda adaptação" e mostrei aquele quadrinho em que Leônidas está sendo atacado com flechas "se conseguirmos transformar esse quadrinho em uma cena, isso seria motivo para fazer o filme". E esse foi o momento que nos colocou na jornada de 300.
Desde o início já havia uma obsessão com o visual então...
ZACK SNYDER: O ponto-de-vista de Frank é tão particular e intenso que quando as pessoas vão ao cinema ver um filme baseado numa obra dele querem ter a mesma sensação que têm ao ler os quadrinhos, e não a de que estão assistindo um filme gerado a partir de uma sala de reuniões, por um comitê. Querem ter a sensação de que alguém te agarrou pelo pescoço e está te arrastando para dentro de sua visão - algo que Frank faz tão bem nos quadrinhos.
Lena, o que você achou das mulheres espartanas - e você gostou de interpretar o papel?
LENA HEADEY: Na verdade não conheço a História tanto assim pra falar a respeito, mas elas me pareceram brutais como os homens e foi muito bom interpretar Gorgo.
Gerard e Rodrigo, falem um pouco de suas preparações para os papéis.
FRANK MILLER: Sem choramingar, Gerry.
GERARD BUTLER: Caramba... todo mundo me sacaneia. Não posso mais ser tratado assim por essas pessoas...
ZACK SNYDER: É uma sacanagem virtual. Hahahahahaha.
GERARD BUTLER: Hahahahaha. Eles me enchem na mundo real, no mundo virtual, no mundo de Frank Miller... bom, eu e Zack nos conhecemos uns 6 ou 7 meses antes do filme começar. Dois meses depois eu já entrei num regime de treinamento pesado, enquanto pesquisava para o papel. Eram 6 ou 7 horas por dia de treinamento, entre o desenvolvimento físico e as coreografias de luta. Tive dois treinadores físicos, Mark Dwight e um outro cara, pra fazer o que o Dwight se recusava, que era desenvolver músculos mais estéticos. Tudo isso pra criar aquela aura de Esparta, tornar-me um guerreiro poderoso e, ao mesmo tempo, humano.
RODRIGO SANTORO: Pra mim foi um processo complicado, mas diferente. Não tive treinamento de luta como os espartanos porque meu personagem pensa que é Deus. Mas fiz um treinamento físico por uns quatro meses. E o mais difícil eram as cinco horas diárias de maquiagem, os piercings o ouro e tudo aquilo. A preparação mental tomou um bom tempo também, pois trata-se de uma personagem muito intenso. Mas adorei cada minuto e aprendi muito com o processo todo.
Alguém se manchucou durante as filmagens?
GERARD BUTLER: Sim, mas não posso contar nada com o Frank na linha. Hahahahahahaaha. Sim, me feri várias vezes e terminei o filme com dores em cada músculo do meu corpo e ainda assim tinha que dar tudo de mim na interpretação ou Zack me batia com uma lança.
FRANK MILLER: E a cena da maçã? Você ficou com o maxilar doendo?
ZACK SNYDER: Na verdade ele comeu umas 14 maçãs naquela cena.
GERARD BUTLER: E eu tinha comido um ótimo almoço porque Zack se esqueceu de dizer que a cena da maçã seria à tarde.
ZN: "A propósito, você terá que comer 14 maçãs nos próximos 20 minutos. Vomitar agora seria uma ótima idéia".
GERARD BUTLER: eu ainda tenho maçãs presas na garganta. Maçãs de dois anos atrás.
O que vocês acharam de seus avatares?
LENA HEADEY: A minha é gostosa. Tem peitões!
FRANK MILLER: Eu gostei do chapéu.
GERARD BUTLER: O Frank é muito mais bonito no Second Life que ao vivo.FRANK MILLER: Pfff...
Gerard, alguma influência de outros atores que mereça ser comentada?
GERARD BUTLER: Não. Não acho legal citar nomes porque gera comparações e eu nunca seria bom como eles. Mas a grande influência aqui foi mesmo o desenho de Frank Miller. Ele me orientou no sentido da postura e expressões.
Gerard, foi recentemente divulgado que você estará na refilmagem de Fuga de Nova York. O que você pode nos dizer a respeito?
GERARD BUTLER: Zack está me implorando para dirigir o filme, mas ele não é bom o suficiente para tanto... ahahahahaahaha. Bom, na verdade, temos o roteirista de Falcão Negro em Perigo escrevendo o texto, o que achamos que resultará num filme bacana, empolgante e bem cruel. Mais que isso é complicado dizer porque ainda não temos um diretor. Mas parece que as pessoas ficaram bem empolgadas com ele. De qualquer forma, ainda deve demorar um pouco.
Para todos: O que vocês defenderiam mais ardorosamento de um ataque de espartanos?
LENA HEADEY: Meu passaporte e meus peitos novos do Second Life.
RODRIGO SANTORO: Posso dizer "minha família" ou é brega demais?
GERARD BUTLER: É bonito da sua parte, mas fraquinho.
LENA HEADEY: É uma resposta de mulherzinha.
RODRIGO SANTORO: Ah meu Deus... que absurdo...
FRANK MILLER: Posso responder? Sem querer fazer gracinhas, minha liberdade.
GERARD BUTLER: ...
LENA HEADEY: ...
RODRIGO SANTORO: ....
GERARD BUTLER: ... que boa resposta.
ZACK SNYDER: ... boa mesmo.
Gerard, qual sua frase preferida do filme?
FRANK MILLER: "Eu quero um unicórnio!"
GERARD BUTLER: ahahahahahaha, sim, é essa. Não, sério... não posso dizer porque contaria o final. Mas outra delas é aquela em que Xerxes ameaça Leônidas dizendo "pense em como ficarão suas mulheres" e ele responde: "você obviamente não conhece nossas mulheres". Ehehehehe, é ótima. Nada abala o cara.
Lena, você curtiu o visual do seu avatar... pensa em aplicá-lo na vida real?
LENA HEADEY: Ahahahahaha, nada disso. Pra falar a verdade, achei esse negócio bem esquisito. Mas vou dar uma experimentada nele hoje à noite. Levar meu avatar pra passear.
GERARD BUTLER: É um encontro lésbico-virtual, então?
LENA HEADEY: Engraçadinho...
Lena, fale um pouco sobre Sarah Connor Chronicles, por favor. Houve uma preparação?
LENA HEADEY: Está na fase do episódio-piloto e está pronto. Agora temos que esperar até maio para ver se vai virar série. Mais que isso é difícil falar. Mas tive uma preparação sim, mas não tão grande quanto a de Gerry em 300. Isso me assustaria. Linda Hamilton era bem malhada e eu precisaria de algum tipo de bomba para ficar daquele jeito, então a personagem não será tão forte.
Gerard, você pensa em retomar aquela forma física de 300 outra vez, para Fuga de Nova York, talvez?
Eu adoraria dizer algo inspirador e positivo, mas não. Duvido que eu fique daquele jeito novamente. Foi bom para aquele filme, mas exigiu demais do meu corpo. Sei que Frank vai ficar me enchendo, falando que eu reclamo demais, mas é a verdade. Eu não sou um espartano, Frank!
Geradr, que tipo de música você gosta? Você já cantou rock, ópera...
GERARD BUTLER: Eu gosto de "Frank Miller e as Gatinhas Disco", uma banda nova que está surgindo. E "The Franks" também. Sem falar nos "Rolling Franks" e "Frank e os Esquilos".
FRANK MILLER: ehehehehehe, palhaçada
GERARD BUTLER: Falando sério, uma banda que eu gosto muito mesmo é o Sigur Rós, da Islândia. São estranhíssimos e tão espirituais. É lindo. Todo mundo deveria experimentar. Especialmente Frank.
Zack, algum plano para uma continuação ou prelúdio de 300? 299, 301?
ZACK SNYDER: Sim, tivemos algumas conversas, mas isso dependerá inteiramente de Frank e se ele está disposto a fazê-la... de qualquer forma, levaria anos pra acontecer.
FRANK MILLER: Eu sei exatamente como ela seria, mas eu não posso dizer nada no momento.
Rodrigo, o que você achou do seu figurino em 300?
RODRIGO SANTORO: Adorei! Foi o figurino mais interessante que vesti na vida toda.
GERARD BUTLER: Mas não era muito diferente da roupa que você usou na praia outro dia. A semelhança era incrível.
RODRIGO SANTORO: Ahahahahaha, pára com isso. Eu não uso sunga daquele jeito.
GERARD BUTLER: Eu me referia aos piercings de mamilo.
RODRIGO SANTORO: AHAHAHAHAHAHA
FRANK MILLER: Tenho que falar sério um instante. Quando o Rodrigo apareceu na tela pela primeira vez fiquei pasmo. Eu não acreditava até ali que alguém fosse conseguir transmitir aquela presença toda. E ele conseguiu.
RODRIGO SANTORO: Muito obrigado, Frank! Isso foi... bom, é fruto do seu trabalho brilhante na HQ. O personagem já estava vivo. O que eu tive que fazer foi apenas não ferrar com tudo.
Zack, você pode falar sobre algum ator contratado para Watchmen?
ZACK SNYDER: No momento, não. Se eu falasse, eles diriam "quero mais dinheiro"!
GERARD BUTLER: Quero mais dinheiro!
Ah, é? Você está no filme?
GERARD BUTLER: Sim, estou vivendo todos os papéis. Ahahahaha
ZACK SNYDER: É o Norbit dos super-heróis! Ahahahahaha
E Zack, algum filme novo de zumbi vindo por aí?
ZACK SNYDER: Sim, a continuação de 300! Ahahahahaahah
FRANK MILLER: É! 301 Zumbis!
ZACK SNYDER: "Esta noite jantaremos cérebros!"
Frank, onde você procura inspiração?
FRANK MILLER: Em todo canto. É algo que você começa a treinar de pequeno, transformar coisas do dia-a-dia em histórias, geralmente porque você está entediado. Minha juventude foi bem maçante... eu comecei de uma maneira bem americana, roubando. Roubei idéias de HQs, de desenhos, de tudo o que me caía na frente. Mas aí fui mudando e percebendo que as histórias estão à nossa volta. De qualquer forma, hoje não creio que tenha que procurar histórias pra contar, mas sim manter-me compulsivamente atento a elas, conforme elas se apresentam.
Zack, você treinou com os dublês e atores?
ZACK SNYDER: Sim, nos primeiros dias eu me juntei a eles, mas depois, por causa de horários, tive que treinar sozinho.
Zack, teremos extras legais no DVD? Cenas extras?
ZACK SNYDER: Sim, teremos filmagens inéditas. A montagem é basicamente a mesma, mas teremos uma cena inédita...
GERARD BUTLER: É aquela em que você aparece fazendo sexo com um asno?
ZACK SNYDER: Era uma jumenta. Não invente. Sério, é uma seqüência com os gigantes albinos que são cavalgados por anões arqueiros. Ahahahahaha. Não estou mentindo.
FRANK MILLER: E depois eu é que sou cruel!
ZACK SNYDER: Ahahahaha, ela estará no DVD. Um dos espartanos corta as pernas de um gigante e pula em cima dele para cravar a lança nos anões. Ahahahahaha. É até triste ver os pequeninos morrerem. Eles são até que fofos.
FRANK MILLER: Bah, e você nem pra me colocar no filme numa cena dessas!
ZACK SNYDER: Desculpe, não consegui achar um papel pra você, Frank.
GERARD BUTLER: Eu achei que ele fosse a jumenta...
RODRIGO SANTORO: Ahhhh, esses caras estão indo longe demais...
E aquela cena-teste que você mostrou pra Warner? Estará no DVD?
ZACK SNYDER: Talvez. Há problemas com os contratos dos atores que aparecem ali, mas estamos tentando resolver.
GERARD BUTLER: Resolva! É fantástico! Não me canso de ver aquele vídeo.
ZACK SNYDER: Talvez eu proponha a eles o mesmo negócio que fiz a vocês.
GERARD BUTLER: 5 dólares?
ZACK SNYDER: É isso aí.
Gerard, você ficou triste com a morte de seu personagem?
GERARD BUTLER: Nada! Adoro morrer nos filmes! E essa foi uma morte selvagem e excelente.
FRANK MILLER: Eu adoro a forma como Zack deu um tom quase religioso à cena, com Leônidas quase abraçando as flechas que caem sobre ele. Fiquei tocado.
Gerard, você já chutou alguém no peito, feito aquele mensageiro no filme?
GERARD BUTLER: Detesto dizer, mas sim. Fui um moleque na Escócia. Nós crescemos brigando!
Uma pergunta final: Zack, qual seu filme favorito?
ZACK SNYDER: Star Wars.
Obrigado a todos!