Há algo em comum entre muitos dos trabalhos de Filipe Bragança desde o começo de sua carreira. Em seu primeiro filme, Eu Fico Loko, ele estrelou como o youtuber Christian Figueiredo. Em 2021, ele deu vida à versão jovem de Victor Dantas em Dom, série baseada na história real de Pedro Dom. Já em 2024, Bragança foi o responsável por dar vida a Sidney Magal na cinebiografia Meu Sangue Ferve Por Você.
A ligação do astro nacional de 24 anos com histórias reais continua neste ano quando ele lançar 100 Dias, drama baseado na vida de Amyr Klink. Apesar da semelhança entre os projetos, no entanto, Filipe conta que este talvez tenha sido o maior desafio de sua carreira por um motivo: a mudança drástica em seu corpo.
Para interpretar o navegador que passou 100 dias fazendo a travessia do Atlântico Sul em um barco a remo em 1984, o ator precisou perder dez quilos. “Eu estava muito estressado, porque eu não podia comer, sabe? E também estava estressado porque estava muito concentrado naquele trabalho, era uma responsabilidade muito grande”, contou em entrevista ao Omelete.
Apesar do desafio físico, Filipe afirmou que o projeto foi muito especial por permitir com que ele trabalhasse com Carlos Saldanha. “Imagina, eu cresci assistindo a A Era do Gelo, amo A Era do Gelo. Então trabalhar com ele foi muito legal, foi muito importante para mim”, elogiou.
Ele também foi só elogios para Philippine Leroy-Beaulieu, atriz francesa que interpreta sua mãe no filme, mas é mais conhecida do grande público por dar vida a Sylvie, de Emily em Paris. “A Philippine é quase mais brasileira do que eu. Ela ama o Brasil, ela gosta muito da nossa cultura, da nossa língua, da nossa música, da nossa comida. Quando a gente filmou em Paraty, por exemplo, ela aproveitava aquele lugar de um jeito que eu invejava, sabe? Ela é muito legal, talentosíssima, o trabalho dela no filme está incrível”, declarou Bragança.
Confira a entrevista completa abaixo:
OMELETE: Algo que permeia a sua carreira são as histórias reais. Tem, obviamente, Meu Sangue Ferve Por Você, que acabou de ser lançado. O Victor, de Dom, o seu primeiro filme foi Eu Fico Loko, que era sobre o Christian Figueiredo e, agora, teremos o lançamento de 100 Dias, que é a história do Amyr Klink. Você se atrai por histórias reais? Tem um desafio maior em interpretar alguém que já existiu ou foi só acontecendo na sua vida?
Filipe: Não sei, acho que depende. Eu acho que o cinema brasileiro se atrai muito por cinebiografias. Só esse ano teve Senna, vai ter agora do Ney Matogrosso. Teve Meu Sangue Ferve Por Você. Então, assim, a gente tá sempre caminhando para isso, se atraindo por esse tipo de história. O que não é um problema, mas eu, na verdade, não me atraio necessariamente por isso. Eu quero bons personagens, boas histórias. Se eu puder escolher, e eu tenho tido muita sorte de ter o privilégio de poder escolher ultimamente, eu quero bons personagens em boas produções, trabalhando com bons artistas., Meu Sangue Ferve Por Você, por exemplo, era o Sidney Magal, quer dizer, um baita personagem, um personagem muito difícil, porque as pessoas têm na memória uma imagem do Sidney Magal nos palcos, como era a performance do Sidney Magal ali na década de 70, que é quando se passa o filme. Então eu precisava capturar isso, mas ao mesmo tempo é um desafio gostoso porque é entender como que isso conversa com a linguagem do filme e também não fazer uma imitação, né? No filme do Amyr Klink é a mesma coisa. É muito especial porque no caso do filme do Amyr, a gente conta a primeira travessia que ele fez do Atlântico, quando ele veio da África até o Brasil, e ficou 100 dias no mar. Ele fez essa travessia sozinho, remando, ninguém estava com ele. Então, por outro lado, é explorar uma intimidade do personagem que ninguém viu. E aí, claro, eu utilizo a pessoa de referência, mas eu busco outras referências também. O livro é muito legal, então ainda tinha isso para trabalhar também, para entender um pouco mais como funcionava a cabeça desse cara.
Omelete: Mas o Amyr Klink, você sente que foi seu maior desafio até hoje, considerando a mudança física que veio no processo?
Filipe: De alguma maneira, sim. Sempre são desafios diferentes, né? Na minha carreira, eu me lembro de ser muito desafiador quando eu fiz Os Miseráveis aqui em São Paulo, que é um musical. Que é produção da Broadway, né? Então era uma responsabilidade muito grande e foi um processo muito desafiador. Mas no caso do Amyr, eu perdi 10 quilos. Eu estava bem magro, eu estava muito estressado, porque eu não podia comer, sabe? E também estava estressado porque estava muito concentrado naquele trabalho, era uma responsabilidade muito grande.
Omelete: E você tem que tomar cuidado também do estresse não afetar a equipe que está trabalhando com você, né?
Filipe: Pois é. Isso eu me certificava de que não estava acontecendo. Eu falava com a Jana, que era a nossa assistente de direção e ela me certificava de que eu não estava sendo mutio chato. Mas foi muito especial, porque trabalhar com o Carlos Saldanha, que também é um grande diretor, dirigiu A Era do Gelo, dirigiu Rio, né? Filmes muito especiais. Imagina, eu cresci assistindo A Era do Gelo, amo A Era do Gelo. Então trabalhar com ele foi muito legal, foi muito importante para mim. Excelente diretor, não só de animações, mas com atores, com o jogo no set também. Mas, sim, foi um grande desafio. Talvez o maior desafio da minha carreira até hoje e um filme muito especial, que está ficando incrível.
Omelete: Você já conseguiu assistir um pouquinho?
Filipe: Eu vi um pouco, mas eu falei pro Carlos que eu não quero ver até estar pronto. Porque eu não gosto, eu quero ver no cinema quando chegar.
Omelete: E como foi atuar com a Philippine Leroy-Beaulieu, que muitas pessoas conhecem por ser Sylvie, de Emily em Paris, e agora vai ser a mãe do Amyr Klink num filme brasileiro. Como foi trabalhar com ela assim? O português dela é bom?
Filipe: Cara, o português dela é perfeito. Ela entende perfeitamente, ela fala um português, claro, com um sotaque, de leve. E que eu me lembre, o Carlos até pediu para ela forçar um pouquinho o sotaque no filme, porque a mãe do Amyr de fato era estrangeira, então era importante que isso ficasse muito claro para o público. A Philippine é quase mais brasileira do que eu. Ela ama o Brasil, ela gosta muito da nossa cultura, da nossa língua, da nossa música, da nossa comida. Quando a gente filmou em Paraty, por exemplo, ela aproveitava aquele lugar de um jeito que eu invejava, sabe? Ela é muito legal, talentosíssima, o trabalho dela no filme está incrível. Foi muito bom trabalhar com ela e com todo mundo, com o João Vítor Silva, com o Felipe Camargo, que são a família. E que são praticamente os únicos personagens do filme, porque depois sou eu e o barco.
Omelete: Bom, você já fez cinema, já fez teatro, já fez teatro musical, já dublou, fez voz original, tem séries na Netflix, Prime Video, Disney Plus, novela. O que falta na sua carreira? Tem alguma coisa que você ainda sonha em fazer?
Filipe: Acho que um ator que estiver satisfeito tem que se aposentar. Tem muitas coisas específicas que eu gostaria de fazer. Tenho muita vontade de fazer um vilão louco, tenho muita vontade de interpretar um advogado para fazer aquelas cenas de tribunal, sabe? Mas o que eu quero é poder continuar contando as nossas histórias, histórias brasileiras. Eu tenho vontade de trabalhar fora também, mas isso é um processo que tem que acontecer naturalmente e que leva muito tempo. Mas eu quero continuar caminhando para isso, interpretar bons personagens, trabalhar com artistas que eu admiro, que me inspirem também e poder impulsionar o nosso cinema. E, quanto mais eu puder estar em várias linguagens diferentes, no palco, no cinema, na TV, esse é o mundo ideal para mim.