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"Não tinha ambição de me tornar diretor", diz Lee Jung-jae, ator de Round 6

Lee Jung-jae estreou o thriller de espionagem ‘Hunt’, fora de competição, em Cannes

23.05.2022, às 10H35.

Lee Jung-jae já tinha estado no Festival de Cannes quando A Empregada, dirigido por Im Sang-soo, participou da competição em 2010. Na época, pouca gente do mundo do cinema conhecia o ator. Mas, em setembro passado, o astro sul-coreano tornou-se também uma estrela mundial com o lançamento da série Round 6 na Netflix. Por isso sua volta nesta 75ª edição se dá em circunstâncias bastante diferentes. Fora que, desta vez, ele vem a Cannes com sua estreia na direção, Hunt (caçada, na tradução livre), exibido fora de competição.

Eu definitivamente queria estar novamente em Cannes e está sendo maravilhoso vir com a equipe do meu filme”, disse Lee em mesa-redonda com a participação do Omelete. O ator e diretor, que ganhou o SAG, o Film Independent Spirit Awards e o Critics Choice Super Awards por Round 6, afirmou estar feliz com a sessão da meia-noite cheia, os aplausos e as conversas com a imprensa internacional.

Sua estreia na direção foi mero acaso. Ele tinha montado uma produtora com o amigo e ator de Hunt Jung Woo Sung. A ideia apareceu, e Jung-jae acabou decidindo escrever e dirigir a história depois de não fechar com nenhum roteirista e diretor. “Eu não tinha ambição de me tornar cineasta”, disse Lee, contando que fez muita pesquisa e assistiu a muitos filmes.

Hunt é um thriller de ação sobre dois espiões da Agência Central de Inteligência da Coreia do Sul, Park Pyong-ho (Lee Jung-jae) e Kim Jung-do (Jung Woo Sung), encarregados de descobrir quem é o agente duplo conhecido como Donglim, que está atuando em benefício da Coreia do Norte e ajudou em um plano para assassinar o presidente sul-coreano.

A história se passa nos anos 1980, quando as relações entre os dois países estavam em um momento particularmente difícil, e a Coreia do Sul era governada pelos militares, em uma ditadura violenta que torturava quem lutava pela democracia. Lee Jung-jae nega, porém, ter feito um filme político.

A mensagem principal é que não deveríamos entrar em conflito com outras pessoas por causa de ideologias e convicções diferentes”, disse o ator e diretor. Ele admitiu que a história das Coreias faz parte do filme, mas não foi a razão pela qual ele quis realizar Hunt.

Nos anos 1980, a Coreia, assim como muitos outros países, controlava muita informação e criava muita desinformação para fazer lavagem cerebral e implantar certas ideias nas pessoas”, contou Lee. “E o curioso é que em 2022 há pessoas fazendo o mesmo para vantagem própria.”

Na declaração do diretor que está no material de imprensa de Hunt, Lee Jung-jae é mais explícito: “Para proteger uma ideologia, um sistema ou os lucros, guerras sem fim acontecem ao redor do mundo. Que tipo de ideologia, sistema e lucros permite esses atos de violência? Falsas incitações estão evoluindo e agora nós as aceitamos sem ceticismo”.

Mas Hunt não dá lição de moral e quer principalmente entreter, com cenas de ação bastante elaboradas, rodadas inteiramente na Coreia do Sul, apesar de trama se passar em Washington D.C., Tóquio e Bangcoc – a covid atrapalhou os planos de filmar as cenas americanas nos Estados Unidos. “Eu queria que o filme, antes de tudo, fosse divertido”, explicou.

Nesse sentido, Hunt tem suas semelhanças com Round 6, que também mistura ação com observações sobre a sociedade, falando de injustiça, por exemplo. “Em Round 6, eles conseguiram implantar certos temas no meio do entretenimento”, disse Lee. “Eu tentei fazer o mesmo aqui. Eu queria que as pessoas se divertissem assistindo, mas procurei oferecer alguma coisa para pensarem.

Ele afirmou acreditar que a segunda temporada de Round 6 vai continuar na mesma linha. “Vai ser muito divertido, mas dentro da trama tenho certeza de que o criador Hwang Dong-hyuk vai explorar diversos assuntos.” Poucos dias atrás, Hwang disse que a nova leva de episódios ainda demora um bocado, e deve estrear em 2023 ou 2024