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CCXP 2016 | Bill Sienkiewicz faz retrospectiva de carreira em painel especial do evento

Big Numbers é maior arrependimento de desenhista de Elektra Assassina

02.12.2016, às 17H49.
Atualizada em 03.05.2019, ÀS 16H48

O quadrinista norte-americano Bill Sienkiewicz foi o primeiro convidado das Masterclasses da CCXP 2016. Desenhista de Elektra Assassina, Novos Mutantes, Stray Toasters e várias outras HQs, atuante desde os anos 1980, o autor quis principalmente comentar aprendizados de carreira.

"No início, desenhar é como aprender a dirigir", disse o desenhista, que tem 58 anos. "Você está muito receoso quanto à quantidade de instrumentos que tem, como utilizar cada um. E aos poucos você vai se soltando."

Sienkiewicz exemplificou com anatomia. Decidido a ser desenhista de HQ desde os 7 anos de idade, ele começou a estudar livros de anatomia médica da mãe enfermeira. Quando virou profissional, resolveu justamente quebrar com a anatomia: Warlock, herói que co-criou nos Novos Mutantes, tinha um corpo que desafiava todas as regras anatômicas.

"Faz parte da natureza do quadrinho norte-americano colocar coisas dentro de caixinhas. Por natureza, é uam coisa restritiva. E essas restrições, a meu ver, eram muito arbitrárias. Daí veio a ideia de inventar um personagem louco. O que ele era por dentro se expressava no corpo. Foi meu 'foda-se' pra anatomia."

Sienkiewicz disse que há perguntas que sempre lhe fazem. A primeira: que drogas ele usava (ou usa)? "Nenhuma. Aos 22, eu quebrei a mão direita - meu instrumento de trabalho - porque estava bêbado. Foi um alerta. Parei de beber, de fumar e de comer carne vermelha, porque eu tinha que me preservar no que queria fazer. Minha única droga é a cafeína."

A segunda pergunta comum: como lidar com as críticas de fãs e de editores na época em que adotou um estilo mais expressionista, em Novos Mutantes: "Eu e Jim Shooter [editor-chefe da Marvel na época] nos juntávamos para ler as cartas dos leitores, rindo. Um deles mandou: 'Jim: faça ele parar antes que assassine mais gibis.'" As vendas da série, contudo, aumentaram.

Mas a reação do editorial veio. "Em dado momento eles resolveram que queriam unificar todas as séries mutantes, inclusive no visual. Eu falei: 'Vocês querem parar com o que aumentou as vendas e voltar ao estilo de quando as vendas eram baixas?' Eles pararam para pensar e responderam: 'Sim.'"

Desta primeira parte sobre aprendizados de carreira, o artista passou à prancheta. Falou principalmente da fluidez das linhas, de criar o clima certo com o próprio movimento do traço de acordo com a personagem ou tom que quer passar. E voltou à anatomia: "Mesmo que você comece desenhando, por exemplo, pelas proporções certas do rosto, você tem que ter noção do entorno, do todo." E defendeu que os exageros, a anatomia incorreta, são desejáveis. "É melhor ter um desenho emocionalmente correto do que um desenho anatomicamente correto".

Pergunta da plateia: algum grande arrependimento de carreira? "Não ter terminado Big Numbers." O projeto com o roteirista Alan Moore, do início dos anos 1990, teve apenas duas edições finalizadas, de doze. Os motivos de Sienkiewcz tiveram a ver com uma autocobrança elevada: ele trabalhava com 45 pessoas de modelos para os personagens e queria um estilo de arte mais clássico. "Era uma história sobre caos, e os bastidores de criação acabaram virando um caos."

A masterclass terminou com Sienkiewicz sorteando os desenhos que havia feito ali - a quem soubesse soletrar seu sobrenome. Só o terceiro fã acertou.

A CCXP - Comic Con Experience 2016 acontece entre os dias 1 a 4 de dezembro, no São Paulo Expo. Acompanhe nossa live pelo facebook.com/siteomelete, e a cobertura completa emtwitter.com/omelete, instagram.com/omelete, youtube.com/omeleteve, e Snapchat.