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Cultura Pop no Brasil | Os primeiros detalhes do novo filme do diretor de O Som ao Redor

E mais: os rumos da Mostra Tiradentes em 2016 e o próximo filme de Paulo Caldas

RF
26.12.2015, às 16H36.

Responsável por inaugurar, sempre em janeiro, o circuito anual dos grandes festivais do audiovisual brasileiro, a Mostra de Cinema Tiradentes, em Minas Gerais, chega em 2016 à sua 19ª edição com aquela que periga ser sua seleção competitiva do mais alto quilate em toda a sua trajetória. A temática deste ano, pensada pelo curador Cléber Eduardo, fala sobre "espaços em conflito", e o filme de abertura, a ser projetado no dia 22 de janeiro, será Serras da Desordem, de Andrea Tonacci, produção de 2006 que comemora dez anos e é considerada um dos filmes nacionais da década passada. Tonacci é também o homenageado da Mostra em 2016.

Concorrem este ano na seção Aurora - com longas inéditos de cineastas em início de carreira - sete filmes de quatro Estados do país: Animal Político (PE), de Tião (imagem abaixo); Aracati (RJ), de Aline Portugal e Julia De Simone (RJ); Banco Imobiliário (SP), de Miguel Antunes Ramos; Filme de Aborto (SP), de Lincoln Péricles; Índios Zoró – Antes, Agora e Depois? (PE), de Luiz Paulino dos Santos; Jovens Infelizes ou Um Homem que Grita não é um Urso que Dança (SP), de Thiago B. Mendonça; e TaegoAwa (GO), de Marcela Borela e Henrique Borela.

Cogita-se ainda que o festival receberá produções como Deserto, de Guilherme Weber, Aurora, de Thiago Mendonça, e Urutau, de Bernardo Nabuco, mas a direção do evento ainda não se pronunciou acerca dos selecionados. A pedido do Omelete, Cléber Eduardo analisa as discussões estéticas que norteiam o evento:

De que maneira essa questão dos espaços em conflito se materializa nesta relação de proximidade cada vez maior entre documentário e ficção na produção nacional?

CLÉBER EDUARDO: Embora veja essa relação entre a aproximação dos procedimentos de ficção/documentário e a valorização dos espaços nos filmes, é preciso enfatizar que isso está entre nós desde os anos 1950, passando por filmes diversos. O que está em jogo, mais que essa insistente questão das fronteiras abolidas ou explicitadas, dependendo da proposta, é uma outra coisa: o tom dos conflitos, sua composição concreta em matéria de problemas humanos e os desfechos para as adversidades, se aberto, negociado ou em ruptura. O protagonismo dos espaços no cinema brasileiro moderno foi constante, de modo mais direto ou mais mediado, mas há um recuo de tom nos últimos 10 anos, desde talvez Cinema, Aspirinas e Urubus e O Céu de Sueli. Esses dois filmes instalam um tom mais afetivo e menos efetivo, não como tom único, mas altamente em sintonia com o tom de muitos filmes autorais posteriores, sem os rompantes de violência e ruptura que havia nos anos 90, até 2005, com personagens confinados em situações das quais não escapavam, ou fugiam ou terminavam mortos ou matavam. Há um cinema da negociação desde então, que está explícito na mudança de encaminhamentos de filmes na filmografia dos diretores, como no caso de Laís Bodanzki e Anna Muylaert, por exemplo, que passaram de suas iniciais quedas de casa e da família para desfechos mais apaziguados e redentores nos filmes seguintes.

O que a obra de Tonacci representa frente ao papel de vitrine de tendências e resistências que a Mostra de Tiradentes assumiu a partir da sua curadoria?

CE: Em Serras da Desordem (imagem abaixo), Tonacci sintetiza, antes do processo, algumas tendências do segmentos mais autorais, com a superação das categorias entre doc e fic, com o deslocamento recorrente do protagonista sem objetivo e sem conseguir se adaptar, com o maior conflito estabelecido no começo do filme, sem procurar a partir dele estabelecer um tom de choque e sim um tom de observação ao mesmo tempo próxima e familiar. Essas buscas foram constantes no cinema entre 2005 e 2015. O que esse filme e Tonacci têm a ver com Tiradentes? Tudo. O filme estreou na Mostra de Tiradentes em 2006 e, desde então, a mostra seguiu os rastros deixado por sua passagem lá, uma vez que entro na curadoria em 2007, e, em janeiro de 2006, eu estava como convidado na sessão de Serras da Desordem, em seu momento de nascimento, um momento forte para mim e estimulante do norte adotado pelo festival, ou seja, de um perfil de cinema independente em sentido mais amplo (que barato), que propõe algo mais que resiste a algo (visão ao meu ver anda reducionista, a de resistência acima da proposição). Enfim, Tonacci, para mim, é o maior cineasta brasileiro vivo e em atividade.

Primeiras palavras sobre Aquarius, um dos filmes mais esperados do país

Só o fato de devolver uma das maiores e mais belas estrelas do país, Sonia Braga, ao posto de protagonista já seria suficiente para fazer de Aquarius um foco de interesse. Mas muito mais pode se esperar desta produção pernambucana, cercada de mistérios, na qual a atriz de Dona Flor e Seus Dois Maridos foi dirigida por Kleber Mendonça Filho, realizador de um marco contemporâneo: O Som ao Redor (2012). Já rodado, o longa traz Sonia no papel de uma crítica de música que consegue viajar no tempo. A sinopse solta um perfume de ficção científica no ar. Mas percepções prévias podem enganar. Em meio à montagem do longa, Kleber conversou com o Omelete sobre o projeto, que pode ficar pronto só para 2017, para diluir folclores prematuros em torno do filme.

"É sempre muito difícil, proibitivo até, discutir um filme que está sendo feito, pois eu mesmo prefiro não pré-moldar quaisquer que sejam as percepções que ele terá no futuro, quando ficar pronto", relativiza Mendonça. "Soa especialmente mal eu sugerir aspectos positivos em relação ao filme que está no processo. Eu sempre tenho essa dificuldade e prefiro guardar meu entusiasmo, desejos e suspeitas relacionadas ao filme para mim mesmo e para os meus colaboradores. Dito isso, eu não acredito que ele irá dialogar com aspectos sci-fi de maneira clara e frontal, mas há sempre a possibilidade de ele conter elementos enviesados de gênero, pois, ao que parece, esse tom tem feito parte do meu trabalho, creio que sempre de forma muito natural, espero que não forçada. Observei muito isso na recepção de O Som ao Redor, que alguns descreveram como 'um filme de horror'".

O que se pode esperar dessa figura vivida por Sonia Braga (imagem abaixo)? "Clara, o personagem de Sonia, tem experiência de vida, tem passado e tem história pessoal. Jornalista aposentada, muitos discos e livros em casa. Parte dessa história pessoal de Clara existe no seu apartamento, simples, mas de bom gosto, um lugar incrível, na beira mar de Boa Viagem [em Recife, cidade do cineasta]. Seu prédio é pequeno, e chama-se Aquarius, um dos últimos do seu estilo na área. Clara é a última moradora do edifício, a última proprietária, pois os outros cinco apartamentos já haviam sido comprados por uma construtora. Clara, portanto, entra numa pequena guerra fria com essa construtora, que quer que ela saia para que o Aquarius seja demolido. São essas as linhas gerais desse meu pequeno thriller", conta o cineasta.

Segundo ele, a montagem de Aquarius pode demorar, antes que se possa especular sobre qual será seu futuro. "O filme deve seguir todos os caminhos que filmes autorais devem seguir: ir para algum festival no exterior, ter alguma exposição estratégica no Brasil. Mas primeiro preciso ver o filme pronto e entender que tipo de bicho ele é", explica. "Meu processo de montagem é extremamente longo, normalmente. O Som ao Redor teve 15 meses de montagem. Não descarto que o filme fique pronto em 2017."

Entreouvido por aí

Bunker para o cinema de horror e fantasia, o festival português Fantasporto, cuja edição de 2016 vai de 26 de fevereiro a 5 de março, ainda não divulgou sua seleção, mas já rola um barulho de que Vampiro 40 Graus, de Marcelo Santiago, vai representar o Brasil no evento. O longa é um desdobramento da série Vampiro Carioca, pilotada por Fausto Fawcett. A versão cinematográfica esbanja sensualidade, sangue e bons personagens, narrando uma guerra de seres das trevas no Rio de Janeiro.

Caldas em ação

Longe das telas desde 2011, quando rachou opiniões no Festival de Gramado com o possante País do Desejo, o cineasta Paulo Caldas vai rodar no segundo semestre de 2016 um longa-metragem de ficção chamado O Sertão Vai Virar Mar e o Mar Vai Virar Sertão. O título se refere a uma quadrinha popular no Nordeste, celebrizada no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964). Na trama a ser filmada por Caldas, o último casal de cangaceiros foge em direção a uma praia. Lá, eles vão encontrar um náufrago: um marinheiro nazista que sobreviveu do naufrágio do seu submarino. "São dois filmes em paralelo", explica o diretor. "De um lado, há a perseguição da volante aos cangaceiros e, do outro, há a vida dentro do submarino alemão. A ideia é atualizar a história dos conflitos mundiais contemporâneos, estado islâmico e a volta do nazismo. Rodo no Piauí, Ceará e Pernambuco, além de Munique na Alemanha. O submarino será filmado lá."

Sérgio Ricardo em ação

Mítico no cenário musical brasileiro, o músico Sérgio Ricardo dirigiu filmes cults como A Noite do Espantalho (1974) e, após um hiato de décadas sem filmar, volta a rodar longas de ficção em 2016 com Bandeira de Retalhos. Baseado na remoção nas remoções ocorridas no Vidigal, no Rio de Janeiro dos anos 1980, o projeto vai contar com a trupe teatral do grupo Nós do Morro em seu elenco.

Os melhores do ano

Já que o ano está a um passinho de terminar, segue aqui uma lista do que houve de melhor no cinema brasileiro em 2016:

O melhor do melhor
Filme (ficção): Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert
Documentário: Últimas Conversas, de Eduardo Coutinho, e O Homem de Fenyang, de Walter Salles
Direção: Guilherme Fontes (Chatô – O Rei do Brasil)
Atriz: Regina Casé (Que Horas Ela Volta?)
Ator: Othon Bastos e Breno Nina (O Último Cine Drive-In)
Atriz Coadjuvante: Fernanda Rocha (O Último Cine Drive-In)
Ator Coadjuvante: Marcello Novaes (Casa Grande)
Roteiro: Murilo Salles e Fellipe Barbosa (O Fim e os Meios)
Fotografia: José Roberto Eliezer (Chato – O Rei do Brasil)
Montagem: Karen Harley (O Fim e os Meios)
Curta-Metragem: Quintal, de André Novais Oliveira

O top ten nacional do ano:
Que Horas Ela Volta?, de Anna Mulaert
Chatô – O Rei do Brasil, de Guilherme Fontes
O Homem de Fenyang, de Walter Salles
Últimas Conversas, de Eduardo Coutinho
Casa Grande, de Felipe Gamarano Barbosa
O Último Cine Drive-In, de Iberê Carvalho
O Fim e os Meios, de Murilo Salles
Branco Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós
Permanência, de Leonardo Lacca
Chico, Artista Brasileiro, de Miguel Faria Jr.

Mais e melhores risos

Visto por 2.735.000 espectadores em 2013, a comédia Vai Que Dá Certo ganha uma parte dois, ainda mais divertida, e agora mais tensa no quesito suspense, no dia 7 de janeiro. Danton Mello, Felipe Abib, Lúcio Mauro Filho e Fábio Porchat unem forças novamente num plano para embolsar uma bolada que desperta a cobiça de um bandido com permissão e disposição para matar (Vladimir Brichta). A direção é de Maurício Farias, o responsável pelo longa original.

Curta Essa

Encontro às Cegas, de Isabela Costa. Com um dos argumentos mais criativos do cinema brasileiro do ano, este fim de formação de alunos da Academia Internacional de Cinema (AIC-RJ) apresenta uma improvável love story entre um vampiro e uma medusa, brincando com códigos do cinema de gênero. Nas raias do terrir, o curta traz um roteiro temperado com especiarias do terror. Costa dirige, roteiriza e assina a maquiagem.